“Enquanto não houver coragem para cortar a direito, isto não vai mudar”. A afirmação é do presidente do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, Alberto Amaral, e resume aquilo que foi discutido no debate nacional sobre o acesso ao Ensino Superior que decorreu esta segunda-feira no edifício da Reitoria da Universidade do Porto (UP).

A tão falada “fuga de cérebros”, o reduzido número de licenciados e as suas dificuldades de inserção no mercado de trabalho são problemas como que o ensino superior se depara actualmente e que necessitam de medidas cada vez mais céleres e eficazes, disse Alberto Amaral.

O antigo reitor da Universidade do Porto (UP) começou por alertar para a injustiça do sistema de acesso ao ensino universitário “uma vez que, feitas as contras, um aluno que tenha pais com uma formação superior tem dez vezes mais hipóteses de se licenciar”.

No que respeita ao “cada vez maior número de licenciados desempregados”, para Alberto Amaral a solução deve estar no sector público. “A contenção na administração pública, onde se encontra o maior número de pessoas com formação superior, vai fazer-se sentir”, explicou.

No debate estiveram também presentes Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, António Dias Figueiredo, do Conselho Nacional de Educação (CNE), e Cristina Rodrigues, do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

A chave: competitividade

Rui Moreira destacou o “papel decisivo” que a educação desempenha na qualidade do capital humano, “factor crítico para cimentar a competitividade”. Para isso, na opinião do economista, é necessário desenvolver uma maior cultura de exigência e, por outro lado, repensar os critérios de criação de universidades privadas que “absorvem os alunos mais fracos e que não conseguiram entrar no ensino público”.

António Dias Figueiredo foi mais longe e questionou as prioridades dos portugueses. “Não se valoriza o conhecimento, valoriza-se o diploma. Somos um país governo-dependente em que os cidadãos não assumem as suas responsabilidades”, criticou, acrescentando que “os estudantes do ensino secundário e superior são ensinados para serem funcionários e não para seres empreendedores”.

No entender do membro do CNE, é necessário “um esforço de mobilização colectiva” e um esforço dos próprios alunos “para serem melhores naquilo em que se metem” porque a competitividade é cada vez maior.

Já Cristina Rodrigues preferiu contrariar a visão negativa da inserção dos licenciados no mercado de trabalho que “emerge nos meios de comunicação”. De acordo com a responsável, o diploma ainda é um trunfo porque “gera benefícios sociais, maiores vencimentos e a probabilidade de conseguir emprego é muito maior”. “A nossa população activa aumentou 1% mas a população activa com o ensino superior aumentou 5% no ano passado”.

João Queiroz
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