Ao final da tarde, depois das aulas, Joaquim Videira encontra-se de espada em riste a praticar aquele que é o seu desporto desde os 11 anos. O esgrimista estuda na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e treina na Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, equipa que representou quando ficou em segundo lugar nos Mundiais de Esgrima disputados em Turim, Itália, no mês passado.
Tem 22 anos, está no 5º ano do curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores e é 25º no “ranking” mundial. A evolução no desporto – acalenta agora o sonho de participar nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 – e a aproximação do final da licenciatura dificultam-lhe a rotina diária. De tal forma, que os seus dias estão já planeados com um ano de antecedência, tendo em conta as alturas críticas da competição e do curso.
Acabar o curso e a esgrima são “duas prioridades”. Mas, terminados os estudos, Joaquim Videira terá que escolher entre a engenharia e a esgrima, provavelmente fora do país. “Ser atleta não é profissão em Portugal”, lamenta o estudante, que identifica “dois períodos críticos” na vida dos esgrimistas portugueses: “a entrada e a saída da universidade”.
“Em Portugal não há uma mentalidade desportiva” e prosseguir na vida desportiva ao mais alto nível é incompatível com a vida profissional, aponta Joaquim Videira. Noutros países, como a Suécia, Itália e Alemanha, há dentistas, engenheiros e militares bem colocados nos “rankinks” mundiais da esgrima e “cursos para atletas em fases menos críticas da competição”.
Compreensão dos professores
Curso e esgrima não são incompatíveis, apesar de tudo. “Exercitar a parte intelectual é muito importante” neste desporto. Joaquim Videira tem o estatuto de dirigente associativo, já que na FEUP não existe o de atleta de alta competição.
“A lei diz que se pode fazer exames fora da preparação e das competições, mas na FEUP nao dá – há uma época fixada pela faculdade”, diz, compreendo a posição da instituição. “Apesar de tudo os professores são bastante compreensivos”.