Faz hoje 10 anos que o Centro Histórico do Porto foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. O Porto entrava no grupo das então 40 cidades em todo o mundo com esse estatuto. A Câmara do Porto não organizou nenhum evento para assinalar o aniversário.

Para Germano Silva, jornalista e historiador da cidade, não é surpresa que nada tenha sido organizado. “As entidades que governam a cidade têm esquecido algumas datas importantes ligadas à história e a cultura da cidade”, lamenta.

Já em 2001, no auge das comemorações da Porto 2001, os cinco anos da classificação da UNESCO passaram despercebidos à cidade. “O Porto podia ter aproveitado melhor a classificação de Património da Humanidade. Os valores históricos, arquitectónicos e culturais estão a ser esquecidos”, aponta o historiador.

O presidente da Associação de Bares e Discotecas da Zona Histórica do Porto (ABDZHP) tem a mesma opinião. “Pouco se fez passado 10 anos. Quem ganha o estatuto de património devia ter a responsabilidade de o manter”, sublinha António Fonseca.

Mesmo assim, foram feitas algumas obras. “A muralha fernandina está muito bonita e a zona da Ribeira também foi muito valorizada”, exemplifica. “Mas nas ruas interiores isto não foi feito”, critica.

Segundo o representante dos bares e discotecas, a culpa pelo estado de degradação do património não é só do Estado e da Câmara do Porto. “Existem edifícios devolutos pertencentes a proprietários privados, que não fazem nada para melhorar pois estão a espera da especulação mobiliária”, diz. No entanto, António Fonseca acredita que, no futuro, a zona será muito procurada.

“É preciso mais planeamento”

O processo de classificação do Centro Histórico do Porto como Património Mundial começou em 1993. Em 1996, a cidade consegue o estatuto. “Houve um grande empenho para elevar o Porto a património mundial. Depois disto, não houve a preocupação de manter o Centro Histórico”, diz António Fonseca.

Para o presidente da ABDZHP, o Porto é uma cidade muito atractiva mas “não tem havido planeamento da zona histórica”. “Devia haver um organismo que coordenasse e planeasse esta zona, de modo a criar espaços que atraíssem não só os turistas como os próprios portugueses”.

Para Germano Silva, “o Porto está recheado de riquezas arquitectónicas e culturais. É preciso boa vontade das entidades e dos governantes para melhorar o património. É possível recuperar a cidade”.