Espalhados por várias zonas da cidade do Porto, os concessionários expressam diferentes opiniões – e apresentam diferentes números – sobre o estado actual do mercado automóvel, mas os factos são claros: quer a produção quer a venda têm diminuído.

À falta de dinheiro para comprar automóveis, os condutores têm de procurar alternativas – manter os carros actuais, por exemplo. Esta será uma das explicações para o aumento do parque automóvel, que em 2004 pouco ultrapassava os 5,4 milhões de veículos, e que no ano seguinte subiu para mais de 5,5 milhões.

O JPN foi tentar saber como se encontram alguns concessionários portuenses. A Gamobar, por exemplo, casa da Peugeot, diz que as vendas são satisfatórias, atingindo uma média de 1.200 por ano.

Outras marcas de utilitários, como os concessionários da Citröen ou da Volkswagen, estão insatisfeitas com o volume de vendas. A marca alemã, por exemplo, vende cerca de 350 carros por ano no Porto, diz o vendedor Fernando Balaia.

Venda de carros de luxo não é afectada pela crise

Curiosas as opiniões das marcas de carros de luxo, como a Mercedes, a Porsche e a BMW. As três marcas estão satisfeitas com o volume de vendas, que é bastante variável: 140 carros por ano para o concessionário da Porsche, 350 para o da BMW e 120 carros por mês para a Mercedes, ainda que o modelo mais vendido (E 220 CDI) não seja um verdadeiro carro de luxo.

A crise parece não ter afectado a venda de carros de luxo. No entanto, a manutenção do bom – ou “razoável”, como prefere dizer Paulo Vilas-Boas, da administração da BMW -, volume de vendas na gama alta não chega para trazer melhorias ao sector automóvel, dado que os segmentos inferior e médio-inferior ocupam a esmagadora maioria das vendas.

Marcas de luxo satisfeitas

E quanto é que os cidadãos estão dispostos a gastar num carro? Aqui, há sempre variantes: se o automóvel é novo ou usado, pago a pronto ou com recurso a financiamento, e, claro, se é utilitário ou de luxo. No caso dos utilitários, esse valor, ao que foi possível apurar, ronda um máximo de 20 mil euros. Se o destino foi um concessionário de uma marca de luxo, o valor torna-se mais relativo, pois há carros mais acessíveis, e outros verdadeiramente proibitivos.

Dentro dos automóveis mais populares, a Porsche e a Mercedes, por exemplo, têm modelos que vão de cerca de 30 mil euros (o Mercedes-Benz Vaneo) a pouco menos de 200 mil euros (Mercedes-Benz Classe SL 55 AMG). A Porsche tem o modelo Boxster, que custa à volta de 60 mil euros, contrastando com os míticos Carrera, para os quais 100 mil euros podem não ser suficientes.

Fora da órbita nacional, mesmo para quem pode ter um automóvel de luxo, estão os modelos concorrentes Mercedes SLR ou o Porsche Carrera GT, que estão avaliados na exorbitância de 600 mil euros. Os concessionários da Mercedes e da BMW preferiam, por isso, não avançar com números; já a Porsche apontou 100 mil euros como o valor que os clientes estão, em média, dispostos a gastar.

É curioso verificar outro facto relativo ao comércio automóvel. Nem sempre os carros mais vendidos são os mais populares. Na Citröen, por exemplo, o modelo que mais circula nas estradas é o C3, mas o mais popular, segundo Vítor Maganinho, será o C4, um modelo substancialmente mais caro. O mesmo se passa com a Mercedes. Os favoritos são os da série C, mas o modelo mais vendido é mesmo o já referido série E 220 CDI.

Numa altura em que a crise parece estar a abrandar, subsistem dúvidas em relação ao mercado e à indústria automóvel, mas a verdade é que, apesar de os concessionários terem vindo a sentir a diferença no volume de vendas, esta não se registou no parque automóvel.

Texto e Foto: Cristina Villas-Boas