Os jovens formados com o 12º ano são os mais “insatisfeitos” com a sua situação profissional à entrada do mercado de trabalho e estão no grau de formação em que o desemprego é mais expressivo. Pelo contrário, os jovens com o 12º ano do ensino tecnológico e profissional têm uma opinião “muito positiva” sobre a sua formação e têm o “poder” para melhorar a sua posição social.
As conclusões são do estudo “Itinerários Profissionais Imprevisíveis e Formação ao Longo da Vida”, de Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, e António Manuel Fonseca, do Instituto de Educação da Católica.
Partindo de um inquérito feito a 101 jovens saídos do sistema de formação inicial em 1998 (com o 9º, 12º e licenciatura), o estudo tem em conta os percursos que os inquiridos seguiram no período de cinco anos após o fim dos estudos. Dessa forma, permite compreender de que forma os níveis socioculturais e de formação e variáveis como o género influem no período de transição escola-trabalho.
Independentemente da formação inicial, “estamos perante um quadro social de instabilidade laboral bastante significativa”, escrevem os investigadores. 42% dos inquiridos já passou pelo desemprego. Nos primeiros cinco anos de vida activa, cada jovem passou, em média, por 2,8 empregos e quase metade dos entrevistados teve experiências profissionais inferiores a um ano de duração.
A “transitoriedade” e a “precariedade” no emprego são comuns nos primeiros cinco anos de trabalho. Só 37% dos jovens tiveram, nesse período, pelo menos uma experiência de vinculação efectiva, e dentro desta minoria predominam os contratos a termo.
Círculos virtuosos e viciosos
A escola “tem dificuldade em contrariar os níveis socioculturais de partida dos seus alunos”. Este “fenómeno de reprodução social” leva a que filhos de pais com formação superior tenham tendência a tê-la também, num “círculo virtuoso” que é complementado depois por formação ao longo da vida.
No outro extremo, poucos são os membros de famílias com baixos níveis socioculturais que conseguem quebrar o “círculo vicioso” em que estão inseridos.
A mobilidade profissional é usada pelos jovens mais qualificados para “melhorar o estatuto profissional inicialmente alcançado”. São eles, precisamente, os mais inconformados com a sua situação à entrada no mercado de trabalho. Por outro lado, os inquiridos com apenas o 9º ano apresentam trajectos escola-trabalho “menos ziguezagueantes”.
Os investigadores da Universidade Católica concluíram também que persiste a “discriminação de género” no acesso à profissão e no nível de remunerações e que as jovens mulheres têm uma preocupação “mais acentuada” “com a qualidade do emprego e com a sua articulação com a vida familiar”.