Os grandes jornais portugueses apostam “muito pouco na capacidade criativa dos novos designers”. O recurso a estes profissionais é já comum na imprensa, mas são “provavelmente sempre os mesmos”. O diagnóstico é de Eduardo Aires, o primeiro doutorado em Design pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

“Há um despertar lento para a necessidade de integrar o design enquanto disciplina fundamental para a estrutura de um jornal”, afirma ao JPN o designer e professor da FBAUP, autor da tese de doutoramento “A estrutura gráfica das primeiras páginas dos jornais ‘O Comércio do Porto’, ‘O Primeiro de Janeiro’ e o ‘Jornal de Notícias'”, apresentada esta semana.

“Somos um país pequeno e recorrem-se sempre às mesmas experiências. Os portugueses valorizam muito mais o que vem de fora”, sublinha. O “Público” e o “Expresso”, por exemplo, foram dois jornais que encomendaram a sua reformulação gráfica a designers estrangeiros.

“Sem ser fundamentalista, deixava um alerta para uma nova perspectiva: estejam atentos às escolas, porque, com certeza, existem lá bons profissionais”, realça. Para o designer, “é possível unir a forma à função” no grafismo de um jornal, recorrendo “ao bom senso, ao bom gosto, à flexibilidade e à confiança depositada no designer.

Cinco fases evolutivas

O objectivo da tese de doutoramento foi caracterizar as primeiras páginas dos principais jornais portuenses, desde a data do início da publicação de cada um até o final do século XX. “Quis caracterizar estas manchas gráficas [primeiras páginas] que nunca tinham sido caracterizadas”, explica.

Eduardo Aires analisou 110.000 primeiras páginas do “Jornal de Notícias”, do “O Primeiro de Janeiro” e do extinto “O Comércio do Porto”. Para o designer, “não é possível afirmar se a evolução gráfica dos jornais foi positiva ou negativa por se tratar de um território muito particular – a imprensa do Porto”.

Durante quatro meses de estudo, chegou à conclusão que existem cinco fases evolutivas nas primeiras páginas dos jornais em análise. Eduardo Aires destaca cinco fases na evolução dos jornais.

A “fase vertical” vai “do arranque dos jornais até os anos 1920”. A estrutura gráfica caracterizava-se pela verticalidade, com notícias a uma coluna. No segundo período, denominado “fase puzzle”, “as notícias gravitam em volta da imagem”, enquanto na terceira fase (“puzzle com moldura”), as notícias ganham uma moldura a volta.

Nos anos 1980, surge o “modelo natural”, que “corresponde à desvinculação de qualquer modelo ou parâmetro. Nos anos 90, a estrutura gráfica é baseada em módulos. Foi nessa década que os designers entraram nos jornais do Porto, uma entrada algo tardia, segundo Eduardo Aires.