Uma gigantesca “estante” com cerca de sete metros de altura e doze de largura ocupa o átrio de Química da Reitoria da Universidade do Porto (UP). Está voltada para o Jardim de Cordoaria, como que a assinalar uma intenção de abertura dos tesouros escondidos na instituição à cidade.

Durante cerca de um ano, Paulo Cunha e Silva “mergulhou” nos depósitos dos vários museus da UP para criar narrativas em torno das histórias da Natureza e do conhecimento.

São essas, afinal, “as duas grandes histórias que a universidade conta”, explicou o comissário da exposição “Depósito – Anotações sobre Densidade e Conhecimento”, que começa amanhã às 18h e termina a 30 de Junho (segunda a sábado, das 10 às 18h).

São centenas de peças colocadas na “estante” de acordo com ordens de complexidade: dos minerais com milhões de anos ao encéfalo humano; das pedras lascadas à obra de arte; das bolas de basquetebol e futebol às últimas teses de doutoramento realizadas na UP. Pelo meio há armas de bronze, animais embalsamados, computadores, instrumentos de medição e um sem número de outros artefactos.

Há na exposição uma vertente “política”, admite Paulo Cunha e Silva. O ex-director do Instituto das Artes e programador da Porto 2001 quis mostrar ao grande público objectos normalmente armazenados nos depósitos.

A filosofia é partilhada pelo pró-reitor Manuel Janeira, que vê na mostra uma “alavanca” para “novos caminhos de visibilidade para este espólio que parece imperdível”.

A ideia de um museu único que reunisse o espólio dos vários núcleos dispersos pela universidade e com pouca visibilidade está, por enquanto, fora de questão. “Não nos parece possível ter um só edifício”, afirmou Janeira, que pretende antes que a Reitoria passe a acolher exposições temporárias com material dos diferentes museus universitários.

“Densidade é conhecimento”

A exposição divide-se em três momentos. O primeiro, a “selva do conhecimento”, é no átrio da Reitoria –um crocodilo enorme convive caoticamente com a maqueta da Faculdade de Arquitectura da UP de Siza Vieira e um braço robótico.

Já no interior da Reitoria, surge a “estante”, construção da arquitecta Inês Moreira, símbolo do conhecimento organizado que cabe à universidade construir. Mais do que “estabelecer um discurso em torno da peça única”, Paulo Cunha e Silva quis “explorar a ideia do contexto” em que elas surgem, muitas vezes em jogos irónicos e propiciando múltiplas leituras.

É por isso que, pela sua “densidade”, os depósitos são, muitas vezes, lugares mais fascinantes que os museus, no entender do comissário. “Densidade é conhecimento”, concretiza.

Há ainda o “presente”, representado por obras de 14 artistas portugueses contemporâneos. Entre elas, está um cubo de 10 centímetros criado com o esperma do artista João Leonardo, sobre a solidão e a imortalidade, e um “Museu de Rua”, de Sancho Silva – um “móvel” urbano pronto a ser preenchido por qualquer objecto deixado pelos transeuntes.

Texto e fotos: Pedro Rios
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