O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa) afirma, sem grande margem para dúvidas, que a acção humana é a grande responsável pelas alterações climáticas. Os cientistas concluíram que há 90% de hipóteses de que o aquecimento global causado nos últimos 50 anos tenha sido culpa do Homem. O último relatório, de 2001, referia uma probabilidade de 66%.

O IPCC divulgou hoje as principais conclusões do relatório de 2007 [PDF]. O aumento da temperatura e das catástrofes naturais são algumas das previsões do grupo de cientistas, reunido desde segunda-feira, na sede da UNESCO em Paris.

As emissões de gases de efeito estufa (GEE) provocadas pela acção do homem na Terra são as principais causas para o agravamento do aquecimento global. As concentrações de dióxido de carbono na atmosfera nunca atingiram níveis tão altos desde há 650 mil anos.

Os cientistas do IPCC divulgaram que a temperatura global deverá subir entre 1,8 e 4 graus até o final do século. Este aumento vai afectar o clima e a natureza. Regiões como o sul de Espanha e de França e partes da Itália poderão tornar-se praticamente inabitáveis.

O aquecimento global vai provocar tempestades tropicais mais intensas. Com as alterações climáticas, vai aumentar também o número de furacões, inundações e secas. Tudo isto poderá provocar a deslocação de cerca de 200 milhões de pessoas até 2100.

No que toca à subida do nível do mar, os cientistas mostraram algumas divergências. Chegaram à conclusão que o derretimento dos glaciares vai causar um aumento do nível das águas entre 18 e 53 centímetros até 2100.

“Pós-Quioto”

As principais conclusões do relatório IPCC 2007 eram esperadas pela comunidade científica mundial e pelos dirigentes políticos. O relatório servirá de referência científica no que diz respeito às alterações climáticas e ao aquecimento global.

O presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, afirmou esperar que o relatório deixe “as pessoas chocadas” e faça com que os governos actuem “com mais seriedade”.

Este é o quarto relatório do IPCC. A organização foi criada pela ONU, em 1988, e tem como principal objectivo avaliar e discutir os estudos científicos que se fazem sobre as alterações climáticas e o aquecimento global.

O relatório deste ano deverá servir de referência para o “pós-Quioto”, ou seja, servirá como base para o compromisso entre os países depois do fim do protocolo de Quioto, em 2012.

O documento divulgado hoje é uma síntese do relatório total, intitulada de “Resumo à Atenção dos Decisores”. As 900 páginas do relatório “Alterações Climáticas 2007” serão divulgadas, por partes, até Novembro.

Tentativas de condicionar conclusões

O diário inglês “The Guardian” noticia hoje que um lóbi ligado às petrolíferas norte-americanas tentou suavizar e condicionar as conclusões devastadoras do relatório IPCC.

Segundo o jornal britânico, a petrolífera Exxon-Mobil fez ofertas de viagens, com despesas pagas, e de milhares de dólares para alguns dos cientistas que integram o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.

Em troca, a petrolífera pedia para que os cientistas apontassem certas imprecisões e vulnerabilidades no documento.

As cartas com as ofertas milionárias foram enviadas pela American Enterprise Institute, uma instituição da petrolífera Exxon-Mobil, com ligações à Administração Bush.

Vários cientistas qualificaram a atitude da petrolífera como uma tentativa desesperada de uma organização que quer distorcer a ciência em benefício dos seus interesses políticos.

Alice Barcellos
ljcc05011 @ icicom.up.pt
Foto: Morguefile