Numa altura em que a Câmara do Porto, após uma recusa inicial, mostra alguma abertura para a criação de uma “sala de chuto” na cidade, a Fundação Filos, uma instituição particular de solidariedade social, apresenta sexta-feira, no Porto, um novo projecto que visa proporcionar “uma vida digna às pessoas que se encontram nos últimos anos da sua vida”.

O projecto “Gritos” – Gabinetes de Respostas Integradas para os Toxicodependentes – prevê a criação de “espaços para consumo assistido”, e não de salas de chuto, uma expressão rejeitada pelo padre José Maia, presidente da fundação portuense, que há oito anos trabalha com 1.153 toxicodependentes nos bairros problemáticos da zona oriental da cidade.

“A expressão tem uma conotação negativa e provoca um afastamento das pessoas em relação a este tipo de experiência”, defende José Maia ao JPN.

Segundo o clérigo, o objectivo do projecto é criar espaços de consumo assistido em estruturas móveis, como carrinhas ou cabines, amovíveis ou fixas, “com boas condições de higiene e sem riscos para a saúde pública” junto dos bairros de S. João de Deus, Lagarteiro e Cerco.

Um aspecto considerado “muito importante” pelo presidente da Fundação Filos é a “necessidade” de levar o consumidor a abandonar a injecção e passar para a inalação.

Através do “Gritos”, “uma continuidade do Arrimo”, um projecto semelhante da Fundação, pretende-se criar uma casa de abrigo, postos de enfermagem, serviços de refeições ligeiras e espaços de terapia ocupacional com a colaboração de médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“O Alto Comissariado da Saúde tem que destacar médicos que saibam lidar com estes doentes que são abrangidos pelo SNS”, aponta o padre José Maia, que reclama maiores condições para os técnicos da fundação, muitos deles voluntários. “A insegurança do seu trabalho impede uma resposta mais eficaz”, justifica.

A Associação Norte Vida propôs recentemente a criação de uma sala de injecção assistida, para toxicodependentes em fim de linha, no Bairro do Aleixo.

“Incapacidade” da Câmara do Porto

Apesar de reconhecer “alguns pontos positivos” no “Porto Feliz”, o projecto da Câmara do Porto para combater a toxicodependência, o presidente da Fundação considera que a autarquia não tem revelado “capacidade de parceria” com outras instituições de solidariedade.

“A Câmara tem dado resposta no seu projecto. E aqueles que não estão por ele abrangidos?”, contesta o padre José Maia, sem esconder o descontentamento pela “marginalização” a que diz terem sido votados por parte da CMP os toxicodependentes que não integram o projecto municipal.

João Queiroz
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Foto: Arquivo JPN