Quatro mil casas da costa aveirense estão em risco devido ao avanço do mar, revela um levantamento de Luísa Pinho, investigadora da Universidade de Aveiro (UA). A situação deve-se sobretudo a um incorrecto ordenamento do território e ao exagero na construção junto ao mar na segunda metade do século XX, aponta.

A especialista, que está a preparar uma tese de doutoramento sobre protecção do risco costeiro, fez um levantamento a todos os fogos existentes nas áreas de risco definidas pelo Instituto da Água (INAG), incidindo sobre as praias de Esmoriz, Cortegaça, Furadouro, Torreira, Barra, Costa Nova e Vagueira.

O risco é particularmente “elevado” nas praias da Vagueira e de Esmoriz, cidade que viu o mar atingir cerca de 20 casas na noite de quinta-feira, devido a uma fenda no paredão. Nestas duas zonas, “há muitas construções muito próximas do mar”, incluindo em cima das áreas dunares.

A falta de sedimentos, que ficam retidos a montante devido ao Porto de Leixões e às barragens do Douro, é outro factor importante de desprotecção das praias da Vagueira e de Esmoriz identificado pela investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA.

Retirar pessoas é “urgente”

O presidente da Câmara de Ovar, Manuel Oliveira, disse, esta sexta-feira, ter recebido do Ministério do Ambiente garantias de que vai ser aberto um concurso público para a reabilitação da orla costeira da região.

O projecto prevê a reconfiguração de alguns dos esporões. Contudo, para Luísa Pinho, para além das soluções de engenharia, é “urgente criar condições para retirar as pessoas das áreas de risco. “[A costa aveirense] é muito enérgica, o que acaba por causar estragos em todas as estruturas de engenharia costeira”.

Além disso, qualquer “solução para proteger um determinado aglomerado prejudica um aglomerado mais a sul”, já que as areias ficam retidas nas estruturas, prejudicando a protecção das praias que se seguem.

Poder económico sobrepôs-se ao ordenamento

O avanço do mar regista-se há várias décadas “e já houve imensas situações”, incluindo nos anos 1960 e 1970. Porém, a ocupação populacional das zonas costeiras veio pôr “mais pessoas em perigo” e dar uma dimensão maior ao problema.

“A situação devia ter sido prevista em termos do ordenamento do território”, diz Luísa Pinho, para quem o “poder económico e os interesses particulares” das localidades costeiras se sobrepuseram ao ordenamento correcto.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: Carlos Luís Ramalhão/Arquivo JPN