O sorriso humano é “um filão inesgotável”. O sorriso é um conceito caro ao director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa (FEELab/UFP), Freitas-Magalhães. “Está sempre presente: nasce, desenvolve-se e morre connosco”.

“O rosto é a parte do corpo que mostramos mais ao longo da vida, a parte do corpo que mais fala por nós”, afirmou esta quinta-feira o especialista, na conferência “O rosto humano: compreender as emoções e os sentimentos”, na UFP.

Descodificar as emoções que passam pelo rosto humano é uma mais-valia para o acto de comunicar. Mas “só na microexpressão, só através da análise computorizada e de análise de programas especificamente criados para isso, é que é possível detectar as incongruências emocionais”, explicou o director do FEELab, um dos mais conceituados investigadores mundiais no estudo das expressões faciais.

Freitas-Magalhães é o único psicólogo português a investigar a complexidade do sorriso humano no desenvolvimento das emoções e atitudes interpessoais. O professor tem alguma dificuldade em explicar a falta de investigação neste domínio. “Exceptuando alguns estudos na área das emoções e da expressão facial, e exceptuando os estudos do sorriso feitos apenas e só no Laboratório de Expressão Facial, em Portugal há muito pouca investigação nesta área”, afirmou.

Desprezo, a sétima emoção básica humana?

Freitas-Magalhães está convicto que o desprezo vai passar a integrar o conjunto das emoções básicas humanas. Actualmente, a comunidade científica da área da psicologia das emoções aceita como emoções básicas do Homem a alegria, a tristeza, a surpresa, o medo, a cólera e a aversão.

A possibilidade do desprezo vir a ser incluído na categoria das emoções primárias vai ser discutido na conferência internacional, que se realizará na Universidade da Califórina (EUA), entre 30 de Março e 1 de Abril, e na qual o investigador português vai participar.

“As emoções básicas são iguais em todas as partes do mundo; a forma de as exibir é que varia consoante o lugar”. Apesar de admitir a dificuldade em estudar determinadas culturas, o professor considera interessante comparar os resultados dos seus estudos com outros realizados a nível europeu, que usem os mesmos métodos. “Essa é uma ideia que vou levar à próxima conferência europeia que se vai realizar agora em Setembro”, diz.

Um instrumento para descobrir o rosto humano

O FEELab está a desenvolver o Psy7Faces, um software de reconhecimento e detecção da expressão facial da emoção, que pode tornar-se um contributo para o bem-estar das pessoas, dadas as múltiplas aplicações que poderá vir a ter no contexto social (justiça, saúde, educação, segurança). Freitas-Magalhães alerta que “não será um detector de mentiras, mas um detector de incongruências emocionais”.

Segundo Freitas-Magalhães, a divulgação deste e de outras aplicações e interfaces informáticos desenvolvidos pelo FEELab está prevista para o X Congresso Europeu de Psicologia, que vai acontecer de 3 a 6 de Julho em Praga, na República Checa.