Sérgio Faria encontrava-se no quinto ano de faculdade quando descobriu que tinha tuberculose. Vítima de contágio da doença, critica o que diz ser a “incompetência gritante” do sistema de saúde, porque só depois de uma terceira consulta lhe foi detectada a patologia.

Hoje, com 23 anos, o caminho que percorre é feito dentro da normalidade. Mas, com os olhos postos no passado, lembra os 17 dias de internamento e os cerca de 3 meses de tratamento no dispensário. Os profissionais e as boas instalações são pontos positivos na estrada que percorreu.

Os recursos humanos são suficientes, mas o pneumologista e director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto José Agostinho Marques aponta a falta de condições que os hospitais apresentam em termos de isolamento. Um diagnóstico grave que, para o pneumologista, contribui para o risco de contágio.

Marta Luz, enfermeira no Hospital Nossa Senhora da Ajuda em Espinho, acredita que para poucos casos de tuberculose há material suficiente nos hospitais. Caso o número seja maior, a enfermeira afirma ter “algumas dúvidas”.

Portugal diagnosticado como o país com mais tuberculosos na UE

No Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, os dados indicam que por cada cem mil portugueses, 29,4 tem tuberculose. Dados que ficam acima da média da União Europeia, onde são 17 os casos por cada cem mil habitantes.

O Porto continua a ser a cidade do país com o número mais elevado – 49,6 por cada cem mil. Agostinho Marques indica que o Porto é a cidade com mais doentes, porque a doença nunca foi “suficientemente combatida”.

O contágio e a má nutrição são factores frequentemente apontados como os principais causadores da tuberculose. Na população com sida, a patologia é muito vulgar e vice-versa. A sobreposição das duas permite ao pneumologista afirmar que 15 a 16% dos tuberculosos tem sida.

O Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose está terminado e prestes a ser entregue ao Ministério da Saúde. Mas Agostinho Marques lembra que o ministério pode “fazê-lo executar ou não executar”.

Percorridos 125 anos após a descoberta da bactéria da tuberculose, a doença continua a ser um problema preocupante de saúde pública.