A população do Bairro do Bacelo, em Campanhã, que foi esta terça-feira alojada provisoriamente em cinco pensões do Porto, depois da demolição das barracas onde habitavam, continua a defender uma solução alternativa.

“A solução ideal era que as pessoas fossem directamente para casas dos bairros sociais, mas o que acontece é que normalmente os trâmites em termos de alojamento passam inicialmente por pensões. Portanto, não sendo o melhor, é aquela que é possível”, reage o presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Fernando Amaral.

José Miguel Silva, dirigente da Plataforma Artigo 65, reitera que a “passagem por pensões não era o caminho” pretendido pela associação. “Vamos tentar continuar com algumas negociações com a Segurança Social para ver se arranjamos algumas alternativas, uma vez que a vontade das famílias não passa pelas pensões”, acrescenta.

Um terreno ou um armazém são possíveis alternativas. “O que nós tentamos encontrar neste momento é algo onde estas pessoas possam replicar o conceito de comunidade que tinham no acampamento do Bacelo”, explica.

O dirigente diz que o gasto com o alojamento das 47 pessoas em pensões durante 60 dias representa “um valor razoável que dá bem para pagar o aluguer de um terreno ou de um armazém pelo mesmo período”.

A associação de defesa do direito à habitação vai continuar a estabelecer diálogo com a Câmara do Porto e a Segurança Social para “encontrar uma solução alternativa para estes 60 dias que não passe por pensões”.

“Dia muito estranho”

“[Terça-feira] Foi um dia muito estranho, um dia em que eles assistiram à demolição das barracas da zona onde eles viveram mais de 20 anos”, afirma José Miguel Silva. “Eles não sabiam muito bem para onde iam dormir e, no final do dia, o objectivo foi ter pelo menos um abrigo”. “Houve ali muita chantagem psicológica dos diferentes intervenientes”, acusa.

José Miguel Silva acredita que, mesmo que os moradores tenham que permanecer os dois meses em pensões, a reacção vai ser pacífica. “Eles são pacíficos, são culturalmente fortes, mas são pessoas muito humildes e são pessoas que neste momento gostavam que a sociedade reconhecesse que eles só estão a pedir um abrigo”.

As famílias “só pretendem que a Segurança Social e a câmara lhes dêem uma oportunidade para regressarem a uma vida social activa, até porque eles têm ligações à freguesia [de Campanhã] e gostavam de permanecer por ali mas sempre de uma forma tranquila”.

As crianças frequentam escolas em Campanhã. Mas, agora que estão a morar em cinco pensões localizadas em várias zonas do Porto, nem o dirigente da Plataforma 65, nem o presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, sabem pronunciar-se em relação ao transporte das crianças para a escola, até porque o transporte é da responsabilidade da Segurança Social.

Uma solução viável para o alojamento definitivo poderá passar por casas na freguesia de Campanhã] que “estão em recuperação e que neste momento não estão a ser habitadas”, avança Fernando Amaral. “Seria a melhor solução para que as crianças possam continuar a frequentar as escolas onde se encontram”.