O trabalho de investigação “Iguais ou diferentes? Cuidados de saúde materno-infantil a uma população de imigrantes” recebeu o Prémio Bial de Medicina Clínica, no valor de 50 mil euros, entregue esta quarta-feira no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).
O estudo dá um especial destaque à população imigrante nos concelhos de Amadora e Sintra, visto que nestas duas regiões a taxa de imigrantes é uma das mais elevadas do país. Provêm na sua maioria do continente africano.
A amostra envolveu 1979 nados-vivos e 10 nados-mortos, nascidos no hospital Fernando da Fonseca entre 1 de Dezembro de 2005 e 31 de Maio de 2006. Os recém-nascidos estudados eram filhos de imigrantes e portugueses.
Uma das grandes conclusões do estudo é que a acessibilidade aos serviços de saúde é igual para todos, mas nem todos usufruem dela. “Em Portugal, a acessibilidade é igual para todos, mas não chega para ter equidade de cuidados”, afirmou Maria do Céu Machado da equipa vencedora.
Registam-se diferenças significativas entre portugueses e população imigrante, sobretudo ao nível da patologia materna na gravidez, das famílias monoparentais e consumo de álcool.
As famílias imigrantes apresentam maiores fragilidades sociais, o que se reflecte também na saúde, daí a maior mortalidade fetal e neonatal e mais doenças durante o período de gestação, nomeadamente de doenças infecciosas. “As famílias dos imigrantes são socialmente frágeis e vulneráveis. A mortalidade na gravidez é quase o dobro da mortalidade nas famílias portuguesas”, explica a investigadora, que é Alta Comissária da Saúde.
A gravidez não vigiada, patologias maternas e o risco social explicam a maior mortalidade perinatal (durante a gravidez e primeiros dias de vida) dos filhos dos imigrantes. Os recém-nascidos filhos de imigrantes dos concelhos de Amadora e Sintra sofrem, na sua maioria, mais privações no plano sócio-material do que a população da área metropolitana da área de Lisboa.
Prémio para a dedicação
Maria do Céu Machado da equipa vencedora acredita que o seu estudo pode contribuir para um melhoramento dos serviços de saúde em Portugal. “Trata-se de um prémio para a investigação e dedicação dos profissionais”, referiu.
A Alta Comissária da Saúde aponta o diagnóstico tardio como principal causa para a ineficácia da intervenção. “Cerca de 28% das crianças nascidas neste período não estão inscritas em Centro de Saúde nenhum, o que significa que os pais quando as vêem doentes vão ao hospital, mas não têm seguimento, nem cuidados primários”, adianta.
A investigadora não exclui a possibilidade de realizar um estudo semelhante na área do Grande Porto, embora reconheça que a comunidade de imigrantes é bem menor que em Lisboa. “Fazia sentido fazer sobre excluídos sociais”, sugeriu ao JPN.