As seis pessoas que estão alojadas na Pensão Portuguesa, na Travessa Coronel Pacheco, no Porto, garantem que têm boas condições. Os ex-moradores do bairro do Bacelo elogiam também o restaurante onde diariamente tomam as suas refeições. Foi à mesa de um restaurante, na Rua Mártires da Liberdade, que o JPN foi encontrá-los esta quinta-feira à noite.
António Sousa garante que a pensão é “do melhor”. “Não tenho nada contra a pensão, nem contra o restaurante”, acrescenta “Foi a primeira vez que estive nas pensões. A gente não está habituada e acha estranho”, diz Florinda Machado, esposa de António, que não a exclui a possibilidade de poder habituar-se a este novo modo de vida.
As queixas recaem agora nas viagens que diariamente fazem para o Freixo. António Sousa refere apenas a distância da escola dos filhos. “Levantamo-nos às 6 da manhã”, frisa Florinda Machado. “A gente levanta-se porque não está habituada a estar ali fechados e vamos lá para baixo [Bacelo] – está lá a família, juntamo-nos lá todos”, explicaexplica.
Além dos transportes, Francisco Machado não tem razões de queixa. “O que custa mais é só o trabalho de vir para aqui”, afirma. António Machado mostra saudades de estarem “à volta da fogueira, quentinhos”.
O pai de Francisco Machado é o único residente ainda no “antigo acampamento do Freixo”. Apesar de ter um quarto numa pensão, dorme numa carrinha porque a mulher está hospitalizada e “fica mais perto ir dali”. Esta situação é do conhecimento da Segurança Social.
Francisco Machado conta ainda que o irmão e a mulher também “estão lá e estão à espera que resolvam a situação deles”. “Nas pensões não tinham condições nenhumas, dizem que aquilo é uma porcaria, que cheirava a mofo e queriam mandá-los para uma cave e eles não aceitaram essas condições”, explicou. A Segurança Social foi à pensão tentar resolver o problema, mas em vão, conta.
Na Pensão Portuguesa estão alojados cinco adultos e uma criança. Os filhos de António Sousa e Florinda Machado chegam esta sexta-feira à pensão, depois de uns dias num ATL. A Segurança Social encarrega-se das despesas do alojamento e da alimentação, mas o transporte escolar das crianças ainda não está assegurado.
Depois de dar banho à filha, Carminda queixa-se de que antes tinham “as coisas todas à mão”. “Somos uns sem tecto, andamos para cima e para baixo”, desabafou.
Terreno ou armazém continua a ser alternativa?
A hipótese de alugar um terreno privado, avançada pela Plataforma 65, já não parece ser imperativa para os cinco ciganos ouvidos pelo JPN.
“Queríamos um terreno para lá estarmos todos juntos, mas ao cabo dos 60 dias, como foi prometido, queríamos uma casa”, reafirma Florinda Machado. António Sousa sublinha a importância de um terreno “com condições” (água e luz).
Francisco Machado mostra-se receptivo a permanecer os dois meses na pensão. “[Mas] Se fosse para um terreno, ficava melhor, convivia com os meus familiares e estávamos todos juntos”, contrapõe.
A Segurança Social pretende instalar as famílias em pensões próximas umas das outras, uma solução defendida pelos moradores desde que as habitações apresentam condições. “Se vou para outra pensão que não oferece condições nenhumas também não quero, prefiro estar na mesma”, afirma Francisco Machado.
Os ex-moradores do Bacelo esperam agora que Rui Rio “cumpra a palavra dele” e no fim dos 60 dias sejam atribuídas habitações sociais às famílias. Francisco Machado diz estar mais confiante na actuação do presidente da câmara do Porto, “mas sempre com a mão atrás das costas”. “Ele disse que ao final de 60 dias nos alojava. Agora eu só espero pelos 61 dias”, conclui.