Compreender as realidades e temáticas em destque no mundo actual é o objectivo do ciclo de conferências “Crítica do Contemporâneo“, que começou esta quinta-feira em Serralves, no Porto, com Giacomo Marramao.

Criador do conceito guerra-mundo, segundo o qual os conflitos internacionais já não se resumem a guerras entre dois países, o italiano procura reflectir sobre a necessidade de transformar as categorias políticas à luz da realidade actual.

Foi o pontapé de saída de um ciclo que se prolonga até ao final de 2007. O objectivo é “organizar tudo quanto faz parte da contemporaneidade e que está mais ou menos disperso para que possa ser legível o momento actual”, enuncia Rui Mota Cardoso, coordenador do “Crítica do Contemporâneo” e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Para o mais ambicioso evento do género em Serralves foram convidadas figuras de referência não só na própria especialidade, mas também no pensamento contemporâneo actual e das dificuldades de o pensar, salienta Rui Mota Cardoso. O evento quer recuperar algum público que a Porto 2001 criou e que a cidade desperdiçou, aponta.

Política, Educação e Biologia são as três áreas escolhidas como núcleos fundamentais de todo o ciclo. Mota Cardoso explica a escolha da política, a primeira das áreas do ciclo, com conferências entre Março e Maio, com necessidade de procurar linhas de fuga e intervenção para as questões que afectam o mundo de hoje.

Já a Educação (de Maio a Junho) é, segundo o coordenador das conferências, “um problema mundial e com grande visibilidade em Portugal”. A Biologia, tema que encerra o ciclo entre Outubro e Dezembro, foi seleccionada pela predominância que detém na sociedade actual.

Política é o primeiro tema

A primeira área em destaque é a Política. Depois de Marramao, Jacques Rancière, Peter Sloterdijk e Giorgio Agamben são os próximos nomes de relevo do pensamento politico a nível internacional a passar por Serralves.

A evolução da democracia, fruto da luta entre classes dominantes e classes dominadas, é uma das marcas da obra de Jacques Rancière (12 de Abril). Para tal, vai até à raiz da democracia, na Grécia Antiga. O pensamento crítico do francês busca respostas nas margens, ou seja, na “despolitização” da sociedade, algo fundamental para compreender a complexidade da democracia.

O alemão Peter Sloterdijk (3 de Maio) tem um carácter provocador: compara as sociedades actuais a um centro comercial – “está tudo lá, mas limitado àquele espaço”, diz Rui Mota Cardoso.

Agamben caracteriza-se pelo pensamento radical. É autor de algumas das teses mais críticas sobre o paradigma político em que vivemos e sobre a natureza das democracias ocidentais. O italiano defende um radicalismo paradigmático como única forma de pensar e compreender o momento que vivemos.

Educação e Biologia

Após as conferências dominadas pela Política, o ciclo terá a Educação e a Biologia como temáticas principais.

De 15 de Maio a 26 de Junho, serão debatidas as crises, reformas e a tendência para a interdisciplinaridade na Educação. Os norte-americanos Eric Mazur, John R. Jungk e William Schmidt e o francês Tom Schuller são os convidados.

O papel transformador da Biologia na forma do ser humano se ver a si próprio vai estar em destaque na recta final do evento. No programa figuram os ingleses Tim Crow e Rosalind Harding, o espanhol Jaume Bertranpetit e o alemão Michael Krawczak. As sessões terão lugar entre 18 de Outubro e 13 de Dezembro.