À medida que se sobe a Rua do Bacelo, que dá acesso ao terreno onde até 27 de Março estava situadas as barracas em que viviam 16 famílias, depara-se com um vazio: já não há casas improvisadas, antes galinhas e um miúdo sozinho de bicicleta.

Algumas pessoas juntam-se perto da área que durante muitos anos foi o seu lar. São ex-moradores que passam lá o dia, depois de uma noite numa pensão.

Desde a demolição das barracas que os habitantes foram distribuídos por cinco pensões do Porto. No entanto, muitos ainda regressam durante o dia àquele que para alguns foi o único lar que conheceram. Gracinda dos Anjos é um desses casos. “Aquilo na pensão é muito pequenino, a gente está sentada em cima das camas. O que é que a gente está ali a fazer?”.

Gracinda não se queixa das condições da pensão onde está, mas confessa que preferia voltar à sua tenda. “A gente para dormir e assim está bem. Não temos nada que dizer da pensão”. “Mas se nos dessem umas tendinhas, já a gente tinha a nossa cama certinha, já a gente sabia a que horas se havia de levantar para mandar as criancinhas para a escola. Era outro ambiente que não há nas pensões”, explica Gracinda dos Anjos.

Rui Rio alvo das críticas

António Sousa também partilha da mesma opinião. O ex-morador do acampamento do Bacelo também preferia regressar às barracas. “Se tiverem um terreno, dêem-mo, que nós vamos todos para lá”, avança.

A postura do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, continua a ser o alvo de todas as críticas da população cigana. “Nós não somos bichos nenhuns. Não fazemos mal a ninguém. O senhor presidente está a agir muito mal, muito mal, muito mal”, defende António Sousa, revoltado.

“É um bocadito complicado, mas não há mais solução”. É com resignação que Fernando Gomes aceita esta nova etapa da sua vida. Mas como o resto da comunidade cigana, também este ex-morador preferia voltar à vida antiga: “Uma pessoa não está habituada a estar assim em pensões”.