Uma cabine telefónica, um caixote do lixo, sinais de trânsito ou um carro mal estacionado. Tratam-se de objectos que para a maioria das pessoas não causam qualquer problema. No entanto, para a população invisual tratam-se de verdadeiras barreiras.

Estes objectos fazem parte do “Percurso de Obstáculos”, criado pela ACAPO (Associação de Cegos e Amblíopes Portugueses), Skip e Sonae Sierra, a decorrer no Gaiashopping, esta quarta e quinta-feira.

O objectivo passa por divulgar a “deficiência visual, para sensibilizar as pessoas para as dificuldades que a população cega ou com baixa visão tem no dia-a-dia”, explica Marlene Monteiro, membro da organização.

Os participantes têm de ter os olhos vendados e fazem o percurso com o apoio de uma bengala. “Nós convidamos as pessoas a usar uma bengala, explicamos como se utiliza. Pedimos para porem uma venda para simularem a deficiência visual. O objectivo é que as pessoas com a bengala se tentem desviar dos objectos”, descreve.

Marlene Monteiro defende que a população portuguesa ainda não está preparada para aceitar a realidade dos invisuais. “Muitas pessoas estacionam os carros nos passeios e não têm qualquer preocupação. Isto é para sensibilizar. Temos também que pensar nas outras pessoas”.

A técnica de terapia ocupacional da ACAPO exemplifica: “É mais cómodo para nós irmos à padaria e deixarmos o carro em cima do passeio. Mas a pessoa cega não o vê”.

Joana Ferraz, uma das participantes, afirmou estar admirada com a dificuldade do percurso. “Uma pessoa tem aquela sensação: ‘Daqui por dois segundos tiro a venda’. Mas realmente para quem tem isto permanentemente… não sei, não imagino! Preferia ficar surda”.

Dicas para guiar invisuais

O evento conta também com uma mesa de cheiros, onde o participante deve ter os outros sentidos apurados, e panfletos que explicam como se deve guiar um invisual.

De acordo com Marlene Monteiro, o ideal é que a pessoa cega segure o braço do guia. “Mas o que acontece no dia-a-dia é a outra pessoa agarrar o invisual e levá-lo. O guia deve ir sempre à frente para proteger e para ela se sentir mais segura”, esclarece.