O número é 25 mil. Trata-se da quantidade de portugueses atingidos pela doença de Parkinson. A propósito do Dia Mundial da doença, o Hospital de São João (HSJ) organizou, hoje, quarta-feira, o encontro “5 anos e 60 doentes depois do início da cirurgia em Portugal”. A unidade hospitalar foi pioneira destas intervenções em território nacional.
O projecto de realizar intervenções cirurgicas começou em 2002 de forma a responder às necessidades dos doentes com Parkinson. De lá para cá, mais de seis dezenas de pacientes foram operados com resultados considerados óptimos. A decisão de tratar cirurgicamente a doença implicou um esforço financeiro por parte da unidade hospitalar. O custo de cada intervenção ronda os 25 mil euros.
O director do serviço de Neurocirurgia do HSJ, Rui Vaz, advertiu, no entanto, que actualmente só é possível parar as manifestações da doença e não a progressão da mesma. Por isso, considera que o tratamento de Parkinson está ainda numa fase experimental embora acredite que os próximos anos tragam mudanças significativas.
O clinico destacou, por outro lado, o obstáculo que constitui a não-comparticipação dos medicamentos. “Muitos doentes têm recursos económicos limitados e o facto da doença de Parkinson não ser vista como crónica é uma barreira importante”, confessou ao JPN.
Os efeitos da doença fazem-se sentir das mais diversas formas. Além da limitação da qualidade de vida, atingem o núcleo familiar e profissional dos doentes.
Paulo Sousa Pereira, 64 anos, antigo agente comercial, contava 42 quando a doença se manifestou. As crescentes dificuldades no local trabalho e na vida doméstica acabaram por limitar o dia-a-dia. A 12 de Setembro de 2006 foi operado e hoje sente-se muito feliz por voltar a “pegar nos netos ao colo”.
A doença apresenta também uma dimensão social que esbarra no desconhecimento e incompreensão do cidadão comum. Salvador conta como não o deixaram sentar numa esplanada para almoçar. “Tive que chamar a PSP”, observa.
Papel dos “media” na divulgação de Parkinson
Casos como o anterior destacam a necessidade de dar a conhecer toda a dimensão da Doença de Parkinson. Ao JPN, Paula Rebelo, jornalista da RTP, considerou que existe a ideia que os portadores de Parkinson “vivem em corredores de hospitais, fechados em quartos herméticos sem conviver com ninguém”. A verdade é que “essas pessoas vivem em casa, à custa do abandono de actividades produtivas por parte de familiares que tem de acompanhá-los”.
“Estas pessoas eram prisioneiras no próprio corpo”, sublinha. “Divulgar isso à comunidade e perceber o que elas e as familias sofrem é fundamental para dar visibilidade às cirurgias e tratamentos inovadores”, rematou.