Carlos Prata, o arquitecto que assinou o projecto de reconversão do Edifício Transparente, acredita que os portuenses vão acabar por valorizar o equipamento, apesar do “estigma” criado pelos vários e longos episódios. “A relação conflituosa que o Porto tem com este edifício será rapidamente ultrapassada. É o que eu penso, não sei o que se verificará”, afirmou esta segunda-feira, numa palestra na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
A obra, projectada inicialmente pelo arquitecto catalão Solà-Morales, foi concluída em Setembro de 2001, mas nunca teve uma ocupação continuada. Coube a Carlos Prata desenhar a reconversão do edifício, readaptado agora a centro de lazer e cultura.
As obras começaram em Junho passado e segundo o jornal “O Primeiro de Janeiro” a inauguração deve acontecer ainda este mês. Contactado pelo JPN, o gabinete de imprensa da Guedes-Pinto/Donaldsons, que gere a infra-estrutura, não confirmou a informação, referindo apenas que a abertura deve acontecer “em breve”.
Os quatro pisos (dois superiores, um ao nível da praia e outro da rua) estão interligados por rampas e comunicam com o exterior do edifício através de portas e um viaduto que liga ao piso mais alto. A maior diferença entre os projectos de Prata e Solà-Morales está na menor abertura ao exterior do topo sul do último piso, visível na nova versão do edifício. Para Prata, os invernos muito rigorosos e o oceano Atlântico não permitem a solução inicial.
O arquitecto descreve a obra como uma “varanda sobre a paisagem”. A maioria dos espaços será ocupada por restaurantes e bares, que, no “piso praia”, “se projectam para o exterior no Verão”. Haverá ainda uma discoteca com ligação à praia, uma livraria dentro de uma “caixa de vidro” (no terceiro piso), lojas, um SPA e um cabeleireiro, adiantou o arquitecto.
Mais um “shopping”?
Questionado por um aluno sobre se não estaremos perante mais um “shopping”, Carlos Prata preferiu classificar o novo Transparente como uma “concentração comercial”. A menor presença de espaços culturais nesta nova versão do edifício – apenas uma livraria, mais pequena do que inicialmente pensada – deve-se a motivos económicos.
“É o programa possível. Foram feitos imensos esforços por parte dos promotores”, disse o arquitecto, lembrando que a intervenção foi feita “numa lógica custo/benefício” própria dos investimentos privados.
Reconhecendo que “este é um edifício polémico”, cujo investimento é discutível, Carlos Prata considera-o, “por boas ou más razões, um referencial” das intervenções dos últimos anos na marginal. “O Porto era uma cidade divorciada com rio e a faixa costeira”, afirmou.
No final do ano passado, a Guedes-Pinto/Donaldsons divulgou que seriam criados 500 novos empregos e que o investimento total ronda os 15 milhões de euros e que já tinham sido celebrados contratos com marcas como a Joshua Shoarma, Real Indiana, Cañas e Tapas, Lightning Bolt, SPA, Iduna, Café Sushimoto, Porto Pausa, Farggi e Carciofi.