“O Rivoli-Teatro Municipal não voltará a ter, tão cedo – se algum dia a vir a ter -, uma estrutura judicial complexa, com quadro de pessoal próprio, destinado a dele se encarregar e a explorá-lo, 365 dias por ano e promovendo e organizando a sua programação enquanto entidade concessionária”. A afirmação é da Câmara do Porto, figura na resposta ao processo interposto pelos trabalhadores da Culturporto e vem lançar um mar de dúvidas sobre a anunciada concessão do Teatro Rivoli a Filipe La Féria.

Mais: na sua argumentação remetida ao tribunal, e revelada esta quarta-feira por alguns órgãos de comunicação social, a CMP refere que o encenador vai ocupar o Rivoli, entre Maio e Dezembro deste ano, num “regime transitório de acolhimento” para levar à cena a peça “Jesus Cristo Superstar”. O que contraria a proposta que o Executivo fez aprovar em reunião de Câmara que prevê um contrato de gestão do teatro municipal, válido por quatro anos, com efeito a partir do próximo mês.

Na contestação à acção judicial, é ainda referido que os auditórios do Teatro Rivoli “passariam a ser um equipamento cultural público e livre”, “explorado pontualmente por quem lá quisesse realizar um espectáculo”. E é neste regime que, diz a autarquia, “La Féria vai encaixar perfeitamente”.

Aumentam, assim, as possibilidades de o encenador desistir da concessão do teatro, dado que as acções judiciais movidas pelas várias companhias de teatro do Porto têm, aparentemente, atrasado o processo de concessão. Aliás, essa hipótese foi avançada em Março por uma fonte do Teatro Politeama que revelou ao jornal “Público” que La Féria estaria a ponderar romper com o processo.

Uma “Rivolição” e uma ocupação contra a Câmara

A intenção de Rui Rio em conceder a gestão do Teatro Rivoli a uma empresa privada foi mal recebida pelos agentes e companhias culturais da cidade. Como forma de protesto, um grupo de 25 pessoas do “Teatro Plástico” ocupou o edifício durante três dias, dando origem a protestos contra a CMP e a uma troca de acusações entre a Culturporto, a entidade que geria o Rivoli, e as companhias de teatro.

Entretanto, após algum tempo de indecisão, a CMP anunciou em Dezembro a entrega da gestão do Rivoli à Bastidores, a empresa de La Féria, o que levou muitos críticos da concessão da gestão do Teatro Rivoli à Bastidores a mover acções judiciais contra a autarquia, nomeadamente o PS e a Comissão de Trabalhadores da Culturporto.