Quem chega pela primeira vez promete voltar, quem já é assíduo elogia. O Gouveia Art Rock encerrou no domingo a sua quinta edição. O festival que animou Gouveia durante o último fim-de-semana prima pela arte de bem receber e pelo espírito aberto em que músicos, organização e visitantes confraternizam.

A música progressiva é um estilo assumidamente pouco definido, mas acima de tudo criativo. No Gouveia Art Rock reúne-se aquilo a que muitos já chamam de “círculo de amigos”.

O público deste festival está longe de ser exclusivamente português. Há uma mescla muito grande de nacionalidades em cima do palco e na audiência. É um fim-de-semana onde a língua oficial da pequena cidade de Gouveia passa a ser o inglês.

Neste festival, o descampado é trocado pelo Teatro-Cine e os anúncios de televisão e os “outdoors” são trocados pela Internet. A primeira vez que se conhece o festival é, normalmente, pelo meio cibernético, ou então pelo sistema de “passa palavra”.

Os primeiros a pisar o palco foram os portugueses Miosótis. Depois foi a vez de rumar até Espanha, com a actuação dos Kotebel. Mas foi com os California Guitar Trio que a assistência se levantou para aplaudir. Para terminar em beleza o primeiro dia desta edição, despediu-se com o concerto de quatro bandas em conjunto, um espectáculo cheio de força que deixou atónita a plateia.

No segundo e último dia, Caamora despertou aqueles para quem a noite tinha terminado mais tarde. Depois, foi a vez dos cabeça de cartaz Magma. O grupo recebeu ovações dentro e fora do palco: onde quer que passasse um elemento da banda, havia pessoas a saudá-lo com salvas de palmas. Robert Fripp dispensa apresentações. O guitarrista fechou o festival com um espectáculo em conjunto com a League of Crafty Guitarists e levou a audiência ao rubro com a sua genialidade.

Festival em múltiplos espaços

Nos intervalos, os espectadores podiam ainda comprar discos de música progressiva. “Um negócio para um nicho de mercado pequeno, mas sem concorrência”, descreve Mário Ferreira. Tem uma loja em Lisboa só deste género musical e é o responsável por este espaço. Gosta de estar no festival porque pode “aconselhar os melhores álbuns ou indicar as últimas novidades”.

Mas nesta edição, o evento não se ficou pelo Teatro-Cine de Gouveia. A Biblioteca Vergílio Ferreira e a Igreja de S. Pedro foram os outros espaços que receberam um debate e um concerto acústico.

O cartaz do festivou levou 400 pessoas a esgotar a lotação um mês antes do evento. Uma audiência pequena no contexto dos festivais, mas muito grande para o género de música que se trata e para a cidade de Gouveia. Os habitantes acolhem a iniciativa com entusiasmo.

“É pena não se repetir quatro ou cinco vezes por ano,” confessou ao JPN António Pedro, residente que ficou à porta do festival porque não conseguiu comprar bilhete a tempo. Durante o fim-de-semana, hóteis, restaurantes e cafés não têm mãos a medir: um negócio que é bem vindo nesta cidade do interior.