Há cerca de duas décadas a moda em Portugal atingia o seu ponto alto. Na década de 80, depois de um período em que a moda era considerada uma coisa “fútil” e que predominava o estilo uni-sexo aconteceu uma “explosão” na moda em Portugal com a diferenciação entre a moda masculina e feminina. Passadas duas décadas, as marcas portuguesas continuam a ser preteridas pelas marcas estrangeiras.

Nos anos 80 houve uma grande preocupação com a moda a nível internacional. Os estilistas começaram a investir na moda feminina. Ana Salazar, estilista e dona de uma das mais antigas lojas de moda, a “Maçã”, considera que “Portugal saiu do cinzentismo e houve [nos anos 80] uma abertura para o novo, assim como nos loucos anos 70”.

No período antes do 25 de Abril, a moda em Portugal era outra. Aliás, em rigor, a moda, no sentido da existência de criadores e definição de estilos, era pouco mais que principiante. Imitavam-se os modelos estrangeiros, com a devida autorização dos criadores e os produtos especificamente pensados para os jovens tinham pouca expressão.

O estilista Augustus em entrevista ao JPN diz que “os poucos grandes costureiros (agora conhecidos como estilistas) e as escassas casas de alta costura compravam ‘toilets’ e tecidos em França ou em Itália e criavam em Portugal peças destinadas a uma clientela muito elitista”.

Depois do 25 de Abril houve uma massificação da moda. O aparecimento das “boutiques” e de grandes marcas e crescente oferta veio suscitar nos portugueses o desejo de acompanhar a moda e começou a aparecer interesse em se vestir melhor.

Portugueses preferem roupa estrangeira

Dizem as estatísticas que os portugueses em geral não consomem as marcas portuguesas. A história já remonta algumas décadas, e ainda quando se fala da moda diz-se que os portugueses preferem consumir o que é estrangeiro.

A primeira loja de Ana Salazar chamava-se Maçã e vendia quase exclusivamente roupa importada de Londres. Apesar das restrições às importações em 1974/75 (resultantes da falta de divisas), Ana Salazar abriria uma segunda loja Maçã na Rua do Carmo, criando a sua própria fábrica e lançando a marca “Harlow”. Hoje uma estilista conceituada, Ana Salazar considera que “não se nota nas pessoas o empenhamento em consumir as marcas portuguesas”.

Augustus afirma que “a dificuldade em consumir as marcas portuguesas deve-se a uma questão de cultura, e chega ao ponto de haver marcas portuguesas com nomes estrangeiras para poderem vender”.