“Por teu livre pensamento” é o título da exposição que parte das vivências de 25 ex-presos políticos portugueses para fazer um exercício de memória sobre a luta antifascista contra a repressão no Portugal do Estado Novo. Mais do que só enquadrar os retratados nos locais símbolo da resistência contra a ditadura, o projecto segue-os até à vida que levam presentemente.

O trabalho da autoria de João Pina surge no espírito das comemorações dos 33 anos da Revolução dos Cravos. A exposição encontra-se patente desde 21 de Abril até 26 de Junho no Centro Português de Fotografia, no Porto.

.A produção fotográfica foi desenvolvida durante um conjunto de entrevistas a ex-presos políticos efectuada por Rui Galiza para o livro com o mesmo título da exposição.

Neto de ex-presos políticos, o autor recorda ao JPN que cresceu com as histórias dos avós. Quando se apercebeu que os amigos e as pessoas da mesma geração não tinham qualquer memória sobre o assunto, decidiu investigar e investir o seu tempo no projecto. Uma ideia que nasceu há seis anos.

A preservação da memória das histórias de tortura e violência durante a ditadura é um objectivo da exposição. No entanto, João Pina acredita num desconhecimento por parte das gerações mais jovens. “As gerações novas nunca esqueceram porque nunca souberam. Foi de certa forma apagado pelas gerações que viveram a revolução”, defende.

O fotógrafo acredita numa tentativa de querer esquecer, tanto por parte das pessoas que sofreram com a repressão, como pelas que não sofreram porque não compreendem as outras. “33 anos passados sobre o 25 de Abril, não existe qualquer memória colectiva deste período”, observa.

A responsável do Centro Português de Fotografia (CPF), Teresa Siza, alinha com o autor e considera mesmo que as pessoas que não viveram a ditadura “devem conhecer para darem valor àquilo que hoje têm”.

Os riscos e sacrifícios a que se propuseram os resistentes antifascistas permitem hoje, para a responsável do CPF, “que se diga mal deles, que se branqueie o período que viveram, que se diga que o fascismo não existiu e até que o Salazar foi o maior português de todos os tempos”.

Sobre o trabalho de João Pina, Teresa Siza, realça a seriedade do projecto. A investigação teve génese numa história familiar mas que se desenvolveu num âmbito muito mais alargado. “É um trabalho directo que procura enquadramentos subjectivos e históricos em termos da vida de cada um dos fotografados mas sem retoques, manipulações”, enfatiza.