Os doentes com asma vão ter, a partir desta terça-feira, a possibilidade de controlar a doença através de uma plataforma web denominada “Programa de Auto-Controlo, Seguimento e Monitorização da Asma (P’ASMA). É uma espécie de pré-consulta “on-line”, em que o asmático pode fazer um diagnóstico e obter um “feedback” do estado actual da sua doença.

Desenvolvida pelo Serviço de Bioestatística da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, esta plataforma permite ao doente ter um papel mais activo no controlo da asma. Ao registar-se no “site”, é pode medir o estado actual e o impacto da doença na sua vida, preenchendo diferentes formulários, gerando depois relatórios que mostram, de forma gráfica, a evolução da doença. Esses registos podem ser posteriormente utilizados nas consultas, facilitando assim as decisões clínicas.

Para além de se informar sobre a doença e esclarecer dúvidas com os profissionais de sáude, através de um sistema seguro de envio de mensagens, os doentes poderão ainda entrar numa comunidade virtual através de fóruns moderados pela Associação Portuguesa de Asmáticos (APA), que estabeleceu uma parceria com o Serviço de Bioestatística da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para a criação do “site”.

“Concluímos, através de estudos, que por um lado, havia necessidade de os doentes se aperceberem que a sua qualidade de vida não estava tão boa quanto deveria estar, porque é feito um mau controlo da doença, e por outro, é preciso melhorar a comunicação entre os centros de saúde e os doentes “, explica ao JPN João Fonseca, imunoalergologista e responsável pela criação do P’ASMA.

O investigador salienta que esta ferramenta surge num país em que os doentes asmáticos – que são mais de 600 mil, de acordo com números do Ministério da Saúde – tendem a resignar-se à sua doença e a adoptar uma atitude pouco activa na busca de soluções que melhorem o seu dia-a-dia, ao contrário dos asmáticos de outros países onde, diz, “a atitude é de revolta e de negação”.

Para João Fonseca, este tipo de plataformas ainda é recente, existindo apenas um projecto do género na Europa e seis em todo o mundo, facto que o leva a considerar que Portugal “está na linha da frente” nesta área. O P’ASMA não é, porém, uma iniciativa pioneira no nosso país. Houve outras que já integraram a componente de consulta, algo que, no curto prazo, a nova aplicação pretende disponibilizar, “de forma a aperfeiçoar e completar o sistema”.

“De qualquer forma este é um grande passo, em que, de facto, a pessoa tem uma espécie de um termómetro que permite uma avaliação numérica e quantificada do estado da sua doença”, defende o imunoalergologista.

Melhorar os registos clínicos

A construção do “site” é o resultado da tese de doutroramento de João Fonseca intitulada “Improving Clinical Information for a Better Asthma Care: The Central Role of Patients”. Durante a realização do trabalho, o investigador chegou à conclusão que existem várias lacunas de informação nos registos médicos tradicionais.

“Há uma média de cerca de 55% de registos com dados completos e que seriam recomendáveis ser descritos”, sustenta o imunoalergologista, sublinhando a importância de uma ferramenta como o P’ASMA para “ajudar a completar e muito essa informação e para se poder ter um melhor registo clínico, haver maior disponibilidade de informação e com isso melhores decisões clínicas”.

Os resultados demonstraram também que 80% dos doentes com asma moderada e grave – a doença pode ter vários graus de gravidade, consoante a frequência, a intensidade dos sintomas e a necessidade de utilizar medicamentos – têm vontade de utilizar tecnologias de comunicação, como a Internet e o telemóvel, para monitorizar e controlar a doença e melhorar a interecção com o médico, “mesmo aqueles com baixo nivel de escolaridade ou com pouca capacidade” para utilizar a “web”.