No dia mais solene da Queima das Fitas, aquele em que é celebrada a Missa de Bênção das Pastas, a segunda noite da festa fechou ao som do pop-rock de David Fonseca, uma estreia no Queimódromo, e de Pedro Abrunhosa, que cantou para os estudantes do Porto pelo terceiro ano consecutivo.

A pouco mais de duas semanas de lançar o seu novo álbum, “Luz”, o músico do Porto deu a conhecer alguns dos temas de um disco que, segundo ele, é “para ouvir alto” e “estar atento”. “Fala de corrupção, de compadrios, de mediocridade e de incompetência, de forma irónica”.

Num concerto como sempre marcado por um tom muito crítico, e que teve como primeiros alvos o presidente dos EUA George W. Bush e o presidente do Governo Regional da Madeira Alberto João Jardim, a quem apelidou de “criaturas da democracia”, Pedro Abrunhosa começou por tocar algumas músicas célebres como “Tudo o que eu te dou”, aquela com que se apresentou no palco, “Socorro” ou “Se eu fosse um dia o teu olhar”, que pôs a plateia a cantar em uníssono.

Com o público definitivamente conquistado, Pedro Abrunhosa aproveitou para apresentar alguns dos temas que integram o novo disco, com letras agressivas nas palavras, num registo socialmente preocupado. Primeiro cantou “Dealer e dilema”, prosseguiu com “Ilumina-me” e “Tenho uma arma” e ainda “Quem me leva os meus fantasmas?”, o primeiro single de “Luz”, que já passa nas rádios nacionais.

E foi com um regresso ao passado que Abrunhosa se despediu dos estudantes que fizeram questão de mostrar que não se esqueceram da letra de “Lua”, uma das músicas de “Viagens”, o álbum que nos anos 90 vendeu mais de 140 mil exemplares.

No final do concerto, o cantautor explicou que o novo disco é um alerta para o país, porque “há falta de cidadania”, e sobretudo para o Porto, “que está a ficar vazio” e “onde a participação é nula”. “O país inteiro vai querer ouvir porque precisa dele”, disse aos jornalistas na conferência de imprensa, quando falou de “Luz”, que, nas palavras de Abrunhosa, “já está a ser censurado”.

David Fonseca deu energia

O primeiro a subir ao palco foi David Fonseca, que se apresentou pela primeira vez a solo na Queima das Fitas. Durante mais de uma hora e meia, o ex-vocalista dos Silence 4 conseguiu contagiar o público com toda a energia e irreverência da sua música.

Quando se soltaram os primeiros acordes, eram muitos aqueles que ainda se preparavam para entrar no recinto e que nem tiveram tempo para passar pelas barraquinhas. Depressa todos se juntaram a David Fonseca para ouvir “If our hearts do ache”.

Num cenário que revela o cuidado na construção do espectáculo, David Fonseca andou entre o passado e o presente, intercalando temas mais antigos como “Someone that cannot love” ou “Angel Song”, este ainda do tempo dos Silence 4, e outros mais recentes, como “Come Into My Heart” ou “Our Hearts Will Beat As One”, que empresta o nome ao seu último álbum, editado em 2005.

No fim, David Fonseca disse “adeus” em português com “Adeus/Não Afastes os Teus Olhos dos Meus”. Foi o tema que encerrou um concerto que o cantor confessou ao JPN ter “corrido muito melhor” do que esperado, já que não está habituado a tocar em palcos abertos.