“Os brasileiros trabalham honestamente e não estão a tirar lugar a ninguém, porque laboram nos nichos em que os portugueses não estão”. As inspecções que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) faz visam “as empresas, porque os patrões têm de regularizar. O cerco do SEF é sobre o patrão. Há uma consciência da autoridade portuguesa, que agora foca o patronato”, referiu Cláudia d’ Angelo, cônsul geral do Brasil no Porto.

A cônsul geral elogia a actuação do Estado português no apoio à imigração. Os contactos entre as altas autoridades dos dois países são “muito abertos. Portugal é dono absoluto de uma política de imigração. As autoridades têm feito muito. A rede de instituições de solidariedade [do Porto, onde a cônsul geral actua] é muito boa, os albergues, serviços de alimentação, casas de abrigo para vítimas de tráfico humano. As infra-estruturas do Governo, especificamente no Porto, são muito importantes”, reforça.

Apesar do elogio ao Governo, a cônsul geral lamenta a atitude de parte da sociedade portuguesa. “Os brasileiros dizem muitas vezes: ‘Nós recebemos os portugueses melhor do que eles nos recebem’. Não tenho ainda como julgar o motivo de o português discriminar racialmente, mas é um facto”.

Cláudia d’ Angelo sublinha que as mulheres e os negros brasileiros são vítimas de preconceito. “Devido ao problema de redes de tráfico humano”, as brasileiras são estigmatizadas como prostitutas. “Há uma generalização errada no imaginário da sociedade”.

O preconceito não é, no entanto, o problema que mais afecta os imigrantes. “A legalização“, diz a cônsul, é a questão mais premente, pelas dificuldades que o processo acarreta. “Os que chegaram até 2003, graças ao acordo, têm maior facilidade, pois não têm de voltar ao Brasil”.

A discriminação, em que se inserem os estereótipos negativos, é o segundo maior entrave à integração da comunidade, considera Cláudia d’ Angelo. Mostrar a importância dos cidadãos brasileiros em Portugal “é um trabalho político que temos de fazer”.