Foi o título mais suado dos 25 anos de mandato de Jorge Nuno Pinto da Costa à frente do FC Porto, mas também terá sido um dos que mais prazer terá dado a festejar no reino do dragão: confirmado na derradeira jornada da Liga, com um ponto de distância para o segundo classificado e dois para o terceiro.

Algo que poucos imaginariam quando o FC Porto dobrou o campeonato com sete confortáveis pontos de vantagem, amealhados numa primeira volta notável, brilhante nos resultados e nas exibições, e em que perdeu um só jogo, em Braga, e empatou outro, em Alvalade.

As oito vitórias consecutivas – a melhor série da Liga – ilustram na perfeição a regularidade dos azuis e brancos na primeira metade da prova. Um percurso invencível que começou com o Benfica, num jogo que fica na memória dos portistas pelas melhores e piores razões: a vitória garantida no último minuto, numa grande demonstração de crença, foi manchada pela perda de Anderson durante seis meses.

As lesões foram, de facto, uma constante ao longo da época dos “dragões” e impediram o treinador de apresentar o mesmo onze em dois jogos seguidos. O primeiro azarado foi Pedro Emanuel, logo na pré-época, e que, face ao regresso ao 4-3-3, obrigou Jesualdo a lançar Bruno Alves, um das grandes surpresas do bicampeão. Aliás, a defesa foi uma das chaves do sucesso da equipa: Pepe e Bosingwa confirmaram-se como pedras basilares. E a eles juntou-se Fucile, a única das seis contratações do bicampeão que não desiludiu.

O equilíbrio que Jesualdo Ferreira trouxe à equipa – consistente a defender e eficaz no ataque – revelou-se também fundamental para a boa prestação do FC Porto na Liga dos Campeões, especialmente na fase de grupos, onde as vitórias fora sobre o CSKA e o Hamburgo terão sido os dois momentos altos de uma carreira que terminou aos pés do gigante Chelsea.

Quer cá dentro quer lá fora, os portistas foram capazes de surpreender o mais optimista dos adeptos, sobretudo depois de um início de época conturbado pela demissão de Adriaanse e a entrada a poucos dias do arranque da Liga de Jesualdo Ferreira, que só foi a tempo de se sentar nas bancadas no Municipal de Leiria, onde os portistas, sob as ordens de Rui Barros, conquistaram o primeiro troféu da época, a Supertaça.

Vacilar, sofrer e vencer

Tudo foi diferente, porém, em 2007. A eliminação da Taça de Portugal em pleno Estádio do Dragão frente ao modesto Atlético foi o primeiro sinal de que a segunda metade da época não seria o tal passeio rumo ao título que muitos profetizavam.

Longe disso. As derrotas consecutivas com a União de Leira e o Estrela da Amadora fizeram os dragões descer à terra e foram o ponto de partida para a irregularidade exibicional, bem atestada nos números: foram desperdiçados 14 pontos, ainda que se tenham marcado quase tantos golos como na primeira fase (34 contra 31, dos quais 14 foram conseguidos em três jogos) – este FC Porto de Jesualdo, aliás, foi o mais concretizador dos dois últimos campeonatos conquistados pelos portistas.

Um registo que não espelha a quebra física evidente dos “dragões”, mas que permitiu segurar o primeiro posto em que se mantiveram desde a primeira jornada. É certo que esteve em perigo em alguns jogos, principalmente após a derrota com o Sporting em casa que deu o mote para uma recta final manchada ainda pelo tropeção no Bessa a três jogos do fim e que obrigou os dragões a não poderem vacilar mais até à grande decisão, com o Desportivo das Aves. Só aí é que Dragão pôde finalmente lançar fogo para festejar o 22.º título da sua história.