Assumiu o comando técnico do FC Porto a quatro dias do arranque do campeonato e mais do que trazer estabilidade a um balneário na ressaca de uma rebelião contra Co Adriaanse, a Jesualdo Ferreira estava destinada uma tarefa ainda mais árdua: em tempo recorde, o professor teria que alterar com sucesso um esquema táctico que nada tem a ver com os seus princípios de jogo e com jogadores escolhidos por outro treinador.
No reino do Dragão, temia-se uma temporada semelhante àquela que se seguiu à saída de José Mourinho, em que o banco azul e branco conheceu três caras diferentes. Por outro lado, a escolha de Jesualdo nunca foi muito bem recebida pelos adeptos, não só pelo passado ligado ao Benfica, como também pela falta de experiência no comando de uma equipa que joga para o título e na Liga dos Campeões, uma competição que o técnico português só conhecia como espectador.
Mas Jesualdo, o treinador mais caro da história dos “dragões”, venceu a desconfiança e respondeu com resultados. O FC Porto partiu para uma primeira volta quase invencível e terminou o ano confortável na liderança, com sete pontos de distância sobre o Sporting e oito sobre o Benfica. Aliás, foi no jogo com os encarnados, que o ex-treinador do Braga viveu o primeiro grande momento no banco do FC Porto.
Foi também nesse jogo, que os dragões ficaram órfãos da magia de Anderson, o “puto maravilha” que parecia arrancar para a época da confirmação. Uma baixa de vulto, mas cujas consequências o treinador foi capaz de minimizar, tal como as outras ausências com que se foi defrontando no decorrer da época.
Com Jesualdo, os azuis e brancos regressaram ao 4-3-3, um sistema que trouxe à equipa maior equilíbrio e rigor defensivo sem, contudo, deixar de ser eficaz no ataque, o mais concretizador dos últimos dois campeonatos conquistados pelo FC Porto. Uma fórmula que deu resultados na Liga dos Campeões e que fez esquecer o descalabro europeu da época passada.
Finalmente o primeiro
Se em Dezembro já se colocava o FC Porto na rota do título, após a longa pausa de Natal defendida pelo próprio Jesualdo, tudo mudou. O feito virou-se, de facto, contra o feiticeiro e os dragões começaram a desbaratar a vantagem que parecia irrecuperável para os rivais.
A eliminação precoce do FC Porto da Taça de Portugal perante o Atlético, equipa que Jesualdo orientou na década de 80, foi o mote para uma segunda volta periclitante, muito à imagem da carreira das equipas lideradas pelo treinador de. Os pontos perdidos em catadupa pelos “dragões” foram adiando aquilo que todos assumiam como inevitável e que nas últimas jornadas esteve mesmo em risco.
As lesões que assolaram o plantel azul e branco, que obrigaram o técnico a alterar a equipa em todas as jornadas, são uma explicação possível, entre muitas outras, para a recta final tremida dos azuis e brancos.
A verdade é que Jesualdo superou as adversidades e conseguiu aquilo pelo qual lutava há muito. Pode ter sido mesmo ao cair do pano, mas ser campeão na antepenúltima, na penúltima ou na última jornada tem o mesmo júbilo e sabor a festa para um treinador que acaba de conquistar o primeiro título da carreira.