O presidente da Liga Portuguesa de Futebol, Hermínio Loureiro, revelou na semana passada que se estão a ser estudados os custos e os benefícios de uma nova redução do número de equipas nos dois campeonatos profissionais. Uma possibilidade que é, no entanto, rejeitada por alguns treinadores, até porque a alteração feita nesta época, dizem, não beneficiou em nada a qualidade do futebol português.

“Se os clubes tiverem condições para estar no profissionalismo, por que é que vamos obrigá-los a deixar de ser profissionais? Para termos mais tempo sem competição? Para diminuirmos o número de receitas? Para a Selecção Nacional estar mais tempo com os jogadores que são pagos clubes? Não faz sentido nenhum”, contesta José Gomes, antigo treinador do Paços de Ferreira e da União de Leiria.

Octávio Machado considera esta “uma ideia avulsa”, porque o que é preciso, segundo o técnico que já passou pelo FC Porto e pelo Sporting, é uma reestruturação total do futebol português, que tem que “voltar a ser para os espectadores de bancada e não para os espectadores de sofá”.

Para Luís Freitas Lobo, comentador desportivo, uma nova alteração dos quadros competitivos deve começar pelas divisões inferiores. “Primeiro tem que se mexer na forma como está organizada a II Divisão B que parece completamente despropositada – há equipas que jogam uma época inteira no primeiro lugar e depois têm que jogar um ‘play-off’ e perdem e a época acaba toda”, propõe.

Redução não aumentou a qualidade

Numa entrevista ao “site” MaisFutebol, Hermínio Loureiro fez também um balanço positivo do regresso das duas ligas ao sistema de 16 equipas, 20 anos depois. “Os campeonatos ficaram mais equilibrados e competitivos”, disse, acrescentando que aceitava opiniões contrárias.

E a verdade é que elas existem. Octávio Machado considera que o equilíbrio é o resultado da “falta de capacidade do futebol português em manter os seus melhores jogadores”, como Cristiano Ronaldo, Ricardo Carvalho ou Paulo Ferreira, e do desgaste dos jogadores dos três grandes, muitos dos quais estiveram presentes no Campeonato do Mundo na Alemanha.

Luís Freitas Lobo chama a atenção para a necessidade de não se confundir competitividade com equilíbrio. “É competitivo algo que resulta de uma prestação competitiva de futebol de tope, bem jogado. Outra coisa é um equilíbrio que resulta do facto de as equipas estarem com os mesmos pontos”, explica, apontando o exemplo do Vitória de Setúbal, Aves e Beira-Mar que jogaram “um campeonato à margem dos outros”.

“Eu quero um equilíbrio que resulte do aumento competitivo do campeonato e acho que isso não se verificou tanto nas equipas que jogam para não descer tanto nas equipas que jogam para o título”, sublinha.

José Gomes é mais crítico e considera que a emoção que se viveu até à derradeira jornada nada tem a ver com a diminuição dos clubes, considerando esta “uma falsa questão”.

“Comparativamente ao ano anterior não se pode dizer de forma nenhuma que aumentou a qualidade e, muitas vezes, bem pelo contrário, porque não há necessidade proporcionar tantas acções ofensivas, uma vez que descendo só duas equipas garante-se mais facilmente a manutenção e o espectáculo perde por isso”, defende o técnico, para quem a solução passa por recuperar o sistema de 18 equipas e por obrigar os clubes a cumprirem as obrigações com os seus profissionais.