“Sem operacionalidade militar, capacidade autónoma e equipamento adequado, à altura das necessidades, a Europa não passará de um gigante com pés de barro”, afirmou o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, nas comemorações do Dia da Europa, esta quinta-feira, no Porto.

O balanço e as perspectivas dos 50 anos da assinatura do Tratado de Roma foram o mote para um seminário, em Serralves. Debates e discursos sobre a União Europeia e os seus caminhos no futuro desencadearam abordagens económicas, políticas e jurídicas.

Sampaio afirmou que, apesar da Europa ser o “primeiro prestador mundial de ajuda pública”, nem todos os aspectos são positivos, citando “algumas insuficiências” na intervenção da União Europeia (UE), como “o conflito israelo-palestiniano, erros no combate ao terrorismo e tratamento dado aos prisioneiros de Guantánamo”.

“As lacunas na política externa são graves. É imprescindível uma maior coordenação das políticas nacionais e das diplomacias europeias”, defendeu o Alto Representante para o Diálogo das Civilizações da ONU.

Europa “tem contribuído para transformar o mundo”

Após a sessão de abertura, iniciada com a intervenção da directora da Representação da CE em Portugal, Margarida Marques, Jorge Sampaio referiu boas e más realidades da UE nos últimos 50 anos.

“A Europa tem conhecido o mais longo período de paz. Tem contribuído para transformar o mundo. Não tem permanecido fechada em si, tem moldado, com os seus princípios e valores, a cena internacional, dando um contributo significativo para a consolidação das condições de paz no mundo”, disse.

“A União Europeia é o primeiro prestador mundial de ajuda pública”, analisou. “Tem desenvolvido um vasto quadro de cooperação, que visa não só integrar os países na economia mundial, como fomentar o seu desenvolvimento sustentado, através de critérios inovadores que ultrapassam o binómio comércio/assistência”.

Primeira potência comercial do mundo, a UE tem desempenhado “um papel de relevo no fortalecimento do sistema de comércio internacional e na sua regulação e tem-se afirmado como um actor influente”, ao contribuir para o desenvolvimento de “políticas adequadas às necessidades dos países em vias de desenvolvimento, nas áreas da educação, da saúde e da luta contra a pobreza”, continuou Sampaio.

Capacidade militar é imprescindível

O secretário de Estado da Defesa Nacional e Assuntos do Mar, João Mira Gomes, salientou que “é errada a ideia de que a paz e a segurança são dados adquiridos, mas a guerra e as relações entre Estados baseadas na força são hoje impensáveis. A continuidade da UE. é fulcral para a paz entre as democracias”.

“A política europeia de segurança e defesa é um vector fundamental para a formação da UE como actor global, ambição só satisfeita caso exista capacidade militar, o que requer vontade política por parte dos seus membros”, rematou João Mira Gomes.