“European House – Prólogo a um Hamlet sem Palavras”, do encenador Àlex Rigola, abre a 30.ª edição do Festival Internacional de Teatro Ibérico (FITEI), esta quinta-feira, pelas 21h30, no Teatro Nacional S. João. O festival termina a 6 de Junho.

A peça, quase sem palavras, é uma reflexão sobre a sociedade burguesa europeia do século XXI. “Não dou soluções, eu só mostro o que há, exponho o que vejo”, afirma Àlex Rigola. Neste trabalho, o “voyeurismo” encontra-se com a narrativa de “Hamlet”, de Shakespeare. Na sobreposição das duas tramas narrativas, procura-se abordar temáticas como a vida, a morte, a comunicação.

“European House” conta a história da morte de um empresário, dos preparativos do seu funeral, com a mulher e o filho a receberem os familiares e os amigos que vão apresentar as condolências. Há ainda lugar para um fantasma que paira sobre a casa, à semelhança do que se passa em “Hamlet”, de Shakespeare. A peça tem diferentes níveis de leitura, conforme se conheça a obra shakespeareana.

Àlex Rigola rejeita a comparação com o Big Brother porque em “European House”, os personagens não sabem que estão a ser observados. “É um trabalho que exige uma grande concentração dos actores porque se tenta fazer um teatro hiper-realista”, diz o encenador. “É um espectáculo muito diferente porque está criado a partir de uma ideia baseada num espaço cénico e não de um texto”.

Espectador como “voyeur”

Da plateia, o espectador pode ver a vida de uma família europeia desenrolar-se no interior de uma casa de três andares, sem cortinas. Àlex Rigola explica que a ideia do corte vertical da habitação é para permitir ao telespectador “ver o que se passa dentro, como se estivesse em sua casa e pudesse ver o que se passa em casa dos vizinhos”.

As cenas habituais de um dia-a-dia numa casa (lavar a loiça, ver televisão, intimidade, interacção familiar) vão estar expostas aos olhos da plateia.

A sonoridade de uma casa real no palco

A casa está isolada dos sons da plateia, através de um vidro, mas os espectadores ouvem tudo o que se passa no interior. Há microfones no cenário para captar os sons habituais de uma casa e as vozes dos actores.

Não é proibido falar dentro da casa, mas fala-se pouco – hoje em dia, a televisão ocupa o lugar das conversas. “Já não há debate”, daí o espectáculo ter “apenas quatro ou cinco palavras”, o que vai “obrigar o espectador a assistir de uma forma diferente”, adianta Rigola.