“A valorização da Baixa do Porto é quase impossível sem o contributo da Universidade do Porto” (UP), afirmou, esta segunda-feira, o presidente da autarquia portuense, Rui Rio, na inauguração da exposição do pintor e escultor espanhol Gerardo Rueda (1926-1996).

Também a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, destacou a importância das indústrias culturais na valorização da vida urbana. “Hoje a vida das cidades e a animação dos centros históricos passam mais e mais pelas indústrias culturais. O Porto só terá a ganhar se desenhar-se como cidade do futuro”, disse, citando o exemplo de Valência, em Espanha, uma “cidade que renasceu” pela cultura.

Organizada pela UP, fruto de uma parceria com a Fundação Gerardo Rueda, o Instituto Valenciano de Arte Moderna, a autarquia e o Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), a mostra, patente até 15 de Setembro, reúne nove esculturas monumentais, dispersas nas imediações da reitoria e no Jardim da Cordoaria, 12 pequenas esculturas (no átrio da reitoria) e 60 pinturas do espanhol, no MNSR.

“Uma das vocações da universidade, que às vezes se esquece e que a UP durante muitos anos esqueceu, é esta ligação à comunidade”, referiu a ministra. Ideia semelhante foi sublinhada pelo reitor Marques dos Santos, para quem “ajudar a criar na cidade condições de atracção” para novos habitantes é uma das missões da universidade.

Isabel Pires de Lima afirmou estar “triplamente feliz”: enquanto membra da comunidade académica da UP; enquanto ministra da Cultura, pelo envolvimento do MNSR – um museu com “qualidades excepcionais” para ter “uma projecção que hoje não tem”; e como membro de um Governo à frente da presidência da União Europeia. “É uma feliz coincidência vários espaços culturais da cidade [do Porto] estarem a festejar a cultura de âmbito europeu”, observou.

Artista da reconstrução

Associado ao grupo de Cuenca, do qual faziam parte nomes como Fernando Zóbel e Gustavo Torner, Rueda foi dono de um percurso artístico que vai do cubismo ao neoconstrutivismo.

“É um dos artistas da segunda metade do século XX espanhol. Hoje está a ser reavaliado por grandes historiadores europeus. Foi um dos primeiros a perceber que era necessário sair do informalismo que dominava a arte espanhola”, diz Bernardo Pinto de Almeida, comissário da exposição.

Com as suas esculturas de grandes dimensões, reduzidas ao essencial, Rueda fez o “regresso à ordem”, acrescenta. “As esculturas dele são pinturas que nascem do chão. São pinturas em três dimensões – ele pensa-as sempre a partir do espaço representativo da pintura”.

O contexto histórico – pós-Guerra Civil Espanhola, pós-Segunda Guerra Mundial – contribuiu para a vontade de “reconstrução” presente na obra de Rueda. “Há um esforço criativo para tentar colocar o mundo novamente em ordem. É um artista optimista, que, naquele contexto, quis olhar para a arte e usá-la para dizer à sociedade que era possível ter beleza”, aponta o vice-reitor Jorge Gonçalves.