Apesar dos esforços da Águas do Porto em despoluir as águas das praias da cidade com vista à classificação de todo o litoral portuense como zona balnear, ainda existem problemas relacionados com a qualidade da água e com algumas praias, alerta o hidrobiólogo Bordalo e Sá.

Classificar como zona balnear e, se possível, conseguir Bandeira Azul é o objectivo de Poças Martins, presidente da Águas do Porto. Mas o professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) acredita que “ainda é muito cedo para fazer este tipo de anúncios”.

Bordalo e Sá considera que os riscos de tomar banho nas praias da cidade “são múltiplos”. “O que não quer dizer que uma pessoa que vá hoje tomar banho fique imediatamente doente. Vai depender muito do seu estado fisiológico e da via de introdução [boca ou nariz]”, esclarece.

Dores de ouvidos, manchas brancas na pele e diarreia, sobretudo nas crianças, “que engolem mais ‘pirolitos’”, podem ser outras doenças que aparecem devido ao contacto com água poluída. Há também risco de contaminação pela hepatite A. “Há uma série de doenças associadas, o que não quer dizer que todos aqueles que entram para tomar banho vão aparecer com os sintomas”, realça.

Análises com pouco significado

No período de análise, que começou em Maio e termina em Setembro, é difícil conseguir avaliar a qualidade da água, já que as praias são “sistemas que estão abertos”, argumenta Bordalo e Sá. “Isto não é um laboratório, nem uma fábrica, em que se consegue controlar desde o início até o fim o processo de fabrico”, refere.

“As análises acabam por significar muito pouco porque temos grande variação de qualidade. Há situações em que de manhã a água está muito má, ao almoço está razoável e pode estar boa ao fim da tarde”, argumenta.

Principais problemas

“O principal problema das praias do Porto é estarem no Porto”, ironiza Bordalo e Sá. “São praias urbanas e o Porto só tem três quilómetros de frente marítima”. Uma das principais “contigências geológicas” das praias da cidade é estarem “muito confinadas”, isto é, “são pequeninas praias ou pequeninas réstias de areia entre os afloramentos rochosos”.

As praias sempre tiveram pouca areia, mas nos últimos dois anos estão a perder ainda mais, “fruto da erosão costeira”. “Na praia da Luz, numa maré alta, a água bate na esplanada”, exemplica o professor do ICBAS. Um dos critérios exigidos para se conseguir a Bandeira Azul é, precisamente, “ter areia”.

Já a praia das Pastoras, a primeira do Porto na direcção sul-norte, “está vedada e ninguém tem acesso, já que está a servir de depósito de entulho de uma obra. Essa é uma das praias que se colocou a hipótese de ter [qualidade de] Bandeira Azul este ano”, disse.