“Não podemos querer uma cidade com qualidade e depois estar na praia com o esgoto a passar em cima dos pés”, diz o presidente da comissão de reestruturação da empresa municipal Águas do Porto. Classificar todas as zonas balneares da cidade e, se possível, candidatá-las a Bandeira Azul é uma das prioridades de Poças Martins, que admite a dificuldade da tarefa.

A meio do processo de análise da água das praias do Porto, já é possível dizer quantas praias vão ser Bandeira Azul?

A primeira coisa que estamos a fazer é um processo de classificação das praias do Porto. Destas nove praias apenas duas, a praia de Gondarém e a do Castelo do Queijo têm vindo a ser analisadas oficialmente pelo Ministério do Ambiente. O Porto tinha desistido das outras praias porque não conseguia ter qualidade.

Achamos que era uma pena. A segunda cidade do país, uma cidade património mundial, não poderia ter três quilómetros de praia que não usava. Decidimos pôr mãos à obra e assumir a classificação de todas as praias como zonas balneares. Para isso foi preciso acordar com o Ministério do Ambiente um programa de análise que vai de Maio a Setembro.

É possível fazer alguma previsão?

Prognósticos só no fim do jogo. Só no fim de Setembro é que vamos saber se podemos contar com a classificação [como zona balnear]. Tudo leva a crer que sim. Quanto à Bandeira Azul, até o fim do ano, qualquer praia do Porto [depois de classificada] pode candidatar-se, o que não quer dizer que o façamos. Por exemplo, a praia do Castelo do Queijo ainda conta com um impacto negativo de Leça e de duas ribeiras poluídas. Esta é a nossa pior praia, localizada mais a norte. Mesmo assim, ainda pode ser Bandeira Azul. Há outras melhores. Temos que esperar.

Os banhistas, neste momento, correm algum risco?

Não há nada na vida que não tenha riscos, até atravessar a rua. O facto de nós disponibilizarmos a informação, no nosso “site”, permite a cada um tomar a sua decisão. Há algo que confunde as pessoas: as praias do Porto, excepto Gondarém e Castelo do Queijo, não são ainda praias certificadas porque no passado não se faziam as análises. O Ministério do Ambiente, por precaução, pôs uns cartazes a dizer “zona balnear não autorizada”, mas as mesmas autoridades colocam nestas praias nadadores-salvadores.

Este ano, já existem cartazes a dizer “praia em estudo” e o Ministério do Ambiente não se responsabiliza pela utilização da praia. Não estou em condições de recomendar que alguém use a praia. Agora, se me perguntarem individualmente, não tenho nenhuma dúvida em dar um mergulho nas praias no Porto

Em termos concretos, o que tem sido feito para melhorar a qualidade da água?

As praias estavam poluídas porque há 25 mil casas do Porto que não estão ligadas ao saneamento, essa é a dura realidade. O que se tem feito é interceptar as descargas de águas fluviais poluídas que estavam a ir para o mar e manda-lás para a Estação de Tratamento de Sobreiras.

Quando há bom tempo, a qualidade da água das praias do Porto é excelente. Só em caso de chuvas intensas é que as praias são afectadas. Isto acontece no Porto e em qualquer outra zona balnear urbana do mundo.

Existe alguma praia que não poderá ser classificada como zona balnear?

A única praia do Porto que não teremos condições para classificar como zona balnear é a praia Internacional, ou dos Surfistas, que faz fronteira com Matosinhos, por causa de uma ribeira que descarrega poluição significativa nesta zona.

O que está a acontecer é uma “revolução” para melhorar a qualidade das praias?

Com certeza. Uma cidade como o Porto tem que tirar partido da zona balnear que tem. É muito importante do ponto de vista ambiental, da auto-estima das pessoas e da imagem da cidade. Não podemos querer uma cidade com qualidade e depois estar na praia com o esgoto a passar em cima dos pés. No entanto, é preciso perceber que uma praia urbana é uma praia que tem sempre riscos. Por muito que se trabalhe e por muito que se invista, ninguém consegue fiabilidade 100%.