Não é uma fusão entre o fado e a música árabe aquilo que sobe esta sexta-feira e sábado ao palco do Teatro Nacional São João (TNSJ). “Fusão soa a um plano. Isso não é uma forma criativa de olhar para as coisas”, diz o músico libanês Rabih Abou-Khalil, que regressa às experiências com fadistas depois de “Regressos”, em 2004, com Camané e Argentina Santos.

Desta vez, Ricardo Ribeiro e Tânia Oleiro, colegas de trabalho na casa de fado Marquês da Sé, em Lisboa, são os fadistas que dão voz a músicas criadas para o espectáculo, com letras de Jacinto Lucas Pires, inspiradas na mitologia da “Casa da Mariquinhas” de Alfredo Marceneiro e Silva Tavares.

Nem o oud (alaúde árabe) segue à risca a tradição árabe (a música de Rahib não é aceite pelos puristas), nem as vozes portuguesas sem se limitam ao fado. “Cultura e música são sempre uma mistura”, considera o músico. “A cultura é um contínuo – se pára morre”, refere Rabih, que acredita que há “uma grande ligação entre o mundo português e o árabe”.

Desde jovem que Rabih ouvia rock’n’roll, jazz e música tradicional do Líbano. Na Alemanha, onde vive desde 1978, aprendeu estudou flauta transversal e composição clássica europeia.

“Não há sequer uma tentativa de aproximação de linguagens”, acrescenta Ricardo Ribeiro. “As músicas não têm nada de fado tradicional”, assegura Tânia Oleiro. A fadista confessa que foi um desafio entrar no espectáculo. “O fado é um bocadinho mais livre. Não temos tantos ensaios”, refere.

Os concertos acontecem esta sexta e sábado, às 21h30. O espectáculo foi coordenado por Ricardo Pais com Hélder Sousa e já passou pelo São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa.