A exploração da palavra dita ou escrita caracteriza as mostras do alemão Harald Klingelhöller e da portuguesa Luisa Cunha, que inauguram esta sexta-feira em Serralves. Klingelhöller é um dos escultores europeus mais reconhecidos da actualidade e participou na exposição “Anos 80: Uma Tipologia”, em Serralves; Luisa Cunha trabalha sobretudo com o som e aborda as relações que o espectador cria fisicamente com a obra.

A exposição de Klingelhöller, patente até 30 de Setembro no Museu de Serralves, centra-se em trabalhos recentes, mas inclui esculturas com mais de 20 anos. O artista “dá uma nova resposta ao desafio” histórico de encontrar um espaço para a arte, explica o comissário Ulrich Loock. Como? Assumindo a falta de espaço próprio para a arte e criando “obras de arte que criem um local em suspenso”.

As esculturas surgem encostadas à parede ou suspensas pelo tecto, utilizam materiais precários como o cartão e recorrem à linguagem para invocar uma situação exterior (um “ali”, por oposição ao “aqui” da obra), através de letras e símbolos, dispostos de uma forma invisível ou de leitura difícil.

Em obras mais recentes, como a que dá o nome à exposição (“O mar na maré baixa sonhado”), Klingelhöller constrói uma espécie de armário colocado na parede, com “gavetas” meio abertas sem quaisquer palavras, mas cuja dimensão e número condizem com o título da obra.

Antologia de uma artista pouco conhecida

Luisa Cunha regressa à Casa de Serralves, onde vai ficar até 7 de Outubro, depois de um projecto na antiga capela da casa em 1999. Serralves repõe a exposição original, mas agora integrada no contexto da primeira selecção antológica do trabalho de Cunha. Uma antologia com sabor a revelação, já que estamos perante uma artista que nunca foi muito visível, aponta o comissário Miguel Wandschneider.

“A exposição faz justiça a um dos trabalhos mais singulares e consequentes da arte portuguesa das últimas duas décadas”, defende. Entre as obras, estão trabalhos como um aquecedor doméstico que “parasita” energeticamente a Casa de Serralves ou um visor electrónico que mostra cifrões e frases como “Londres é que está a dar” (duas críticas ao mercado da arte) e uma persiana entreaberta que convida o “voyer” para o censurar de seguida.