Com 33 anos, José Gomes é bolseiro de investigação científica desde que acabou a licenciatura. Actualmente, recebe uma bolsa de pós-doutoramento e faz investigação no departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). É um dos investigadores que vai protestar esta quarta-feira frente à reitoria da universidade contra a situação em que os bolseiros se encontram.

É uma “incerteza constante”, conta ao JPN o investigador de química computacional. A bolsa que o liga à FCUP acaba em Janeiro do próximo ano e nada está garantido para os tempos que se seguem. Um contrato como investigador ou como docente do ensino superior é “bastante complicado”, reconhece.

São cerca de 10 mil os bolseiros de investigação científica em Portugal. As críticas ao actual estatuto do bolseiro são antigas e conhecidas: deixa de fora os investigadores do sistema de segurança social, não garantindo acesso ao subsídio de desemprego, e tem sido usado abusivamente, na opinião da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), pelas instituições para preencher lacunas dos quadros de pessoal.

Em Setembro termina a bolsa de pós-doutoramento de André Levy, presidente da ABIC, actualmente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa. Aos 35 anos, lamenta-se de não ter “perspectivas, inclusivamente da rentabilização dos anos de experiência”. “É difícil manter a ansiedade sobre controlo para realizar o trabalho”, confessa.

”É muito mais fácil sair daqui”

Bolseira há sete anos, Joana Marques procura conhecer as causas genéticas para a infertilidade. O objectivo neste momento é concluir o doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e partir para um pós-doutoramento a meias entre Portugal e outro país.

“Gostava de ficar aqui em Portugal e de contribuir para o avanço científico do país”, diz, reconhecendo que “é muito mais fácil sair daqui”. Daí que muitos seus colegas emigrem e não voltem. “O sector público congelou e as empresas não querem investir em doutorados”, argumenta.

“Há factores de expulsão em Portugal”, refere André Levy, que, apesar de querer ficar em Portugal, lembra que “todos aqueles que pretender mesmo seguir a carreira científica” têm que manter a possibilidade de ir para o estrangeiro.

Não é só nas ciências exactas que abundam o número de trabalhadores em situação precária. Com 25 anos, João Queirós, que participa num projecto de investigação sobre transformações sociológicas no noroeste português na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, refere que os problemas dos bolseiros são os mesmos nas ciências sociais, “se calhar com a agravante de haver menos bolsas” e, portanto, menos certezas ainda quanto ao futuro.