Um grupo de investigadores do Instituto Biomolecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC) e do Serviço de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) descobriu que o ecstasy ataca também o interior dos neurónios.

Já se sabia que a libertação excessiva de serotonina originada pelo ecstasy afecta as sinapses (espaços entre neurónios onde ocorre a comunicação). O estudo publicado hoje, quarta-feira, no “Journal of Neuroscience” pela equipa de investigadores portugueses demonstra que, afinal, o efeito acontece também no citoplasma dos neurónios.

“Já sabíamos que o ecstasy é tóxico para o cérebro através de várias formas, mas demonstramos a existência de um efeito tóxico que não tinha sido descoberto ainda”, explica, ao JPN, Teresa Summavielle, investigadora do IBMC e líder da equipa de cientistas, que inclui ainda Ema Alves, também do IBMC, e Félix Carvalho, do Serviço de Toxicologia da FFUP.

Cérebro adolescente com maiores riscos

A libertação de serotonina (um neurotransmissor conhecido por “hormona da felicidade”) provocada pelo ecstasy obriga as células a expulsar esse excesso do seu interior, através da enzima MAO-B.

Estudo confirmou os “graves problemas” do uso do ecstasy

Este processo “vai dar origem a produtos tóxicos”, como o peróxido de hidrogénio (conhecido comercialmente como água oxigenada), que “entra na mitrocôndria”. Resultado: “a célula perde parte da sua capacidade para produzir energia”, acelerando o seu desgaste, com danos irreversíveis. “Quanto maior o consumo, maior o desgaste”, esclarece.

As experiências foram feitas com modelos animais adolescentes, já que é nesta faixa etária que se encontram a maior parte dos consumidores de ecstasy. Um facto particularmente preocupante porque “o cérebro adolescente ainda está a formar ligações”. Quaisquer danos cerebrais ocorridos nesta altura podem impedir a formação normal do cérebro adulto.

Efeitos a longo prazo

O estudo confirmou os “graves problemas” do uso desta droga. “Não são efeitos que se verificam apenas logo a seguir ao consumo”, diz Summavielle. Quinze dias depois, os danos continuavam presentes numa quantidade muito significativa.

Iniciado há três anos, o trabalho, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, prevê ainda testes comportamentais com ratos, para dissecar os efeitos do ecstasy na memória, relações sociais e outros parâmetros. As conclusões dessa parte do estudo só serão divulgados dentro de alguns meses.

Campanha nas escolas

O projecto inclui também a campanha “Põe-te a Milhas das Pastilhas” nas escolas do Grande Porto. Desde Janeiro, a campanha contra os efeitos prejudiciais do ecstasy já chegou a cerca de dois mil alunos do 9.º ano do ensino básico.

O objectivo é desfazer muitos mitos e ideias erradas sobre os problemas de consumir esta droga. No início do próximo ano estará “on-line” um sítio com informações para alunos, pais e professores.

“Há muitas coisas na Net [sobre ecstasy] que não são verdade. Há muita gente a dizer que não há efeitos a longo prazo”, exemplifica Teresa Summavielle, contrapondo com os problemas que esta droga provoca em órgãos como o coração, rins e pulmões.