Aplausos, muitos curiosos, máquinas fotográficas apontadas, alguns aventureiros que viajaram à boleia, agarrados aos “amarelos”, sorrisos, olhares de admiração e música de festa. E, claro, o cheiro a óleo e o andar arrastado e turbulento, para os padrões modernos, sobre o ferro dos carris.

Foi em tom de festa que o Porto recebeu o regresso dos carros eléctricos à Baixa, 30 anos depois de terem deixado os trilhos. Para o presidente da câmara, Rui Rio, é uma questão de identidade. “O Porto vale pelos sítios onde é mais Porto. E o Porto vai ficar mais Porto com os eléctricos de volta às ruas principais da cidade”, disse aos jornalistas, antes da viagem inaugural, hoje, sexta-feira.

Identidade que “rima” com mobilidade, de acordo com a secretária de Estado dos Transportes Ana Paula Vitorino, já que esta é uma “zona com desníveis acentuados e com muita população mais velha”. A velocidade lenta deste transporte não é um problema, defende: “Todos os meios de transporte têm as suas funções”, sendo a dos eléctricos as “deslocações de curta distância na Baixa”.

Rui Rio destacou o “esforço” das entidades públicas (a autarquia, a STCP e a Metro) para “valorizar a Baixa” e colocá-la “mais de acordo com a sua história”. A reabilitação do centro do Porto é aliás um “problema mais grave” e “mais difícil” de resolver do que o da mobilidade, capítulo em que a cidade “não está mal para a sua dimensão”, considerou.

Carros do início do século XX

O percurso hoje inaugurado tem 2,3 quilómetros. Passa pelas ruas dos Clérigos, 31 de Janeiro, Santa Catarina, Passos Manuel, Avenida dos Aliados, Praça Filipa Lencastre, ruas de Ceuta e José Falcão e Praça dos “Leões”. A rede de carros eléctricos do Porto tem agora 27,5 quilómetros.

Das 9h30 às 19h00, com uma frequência de 30 minutos, vão circular carros eléctricos das décadas de 1920 e 30, do tipo Brill de eixo rígido, totalmente recuperados e modernizados nas suas componentes mecânicas e eléctricas. A traça original mantém-se – como os velhinhos bancos que se viram consoante o sentido da viagem e as expressões em português de outros tempos.

Investimento de 700 mil euros

As obras para o regresso do eléctrico começaram em Janeiro deste ano e estão quase finalizadas. O investimento, suportado pela STCP e pela Câmara do Porto, é de 700 mil euros. Desde 1998, os investimentos realizados na via de eléctricos (incluindo carris, aparelhos e catenárias) ascendem a cerca de 12 milhões.