Paulo Ribeiro resiste a explicar as suas obras e a defini-las. “Irrita-me bastante ter de criar narrativas à volta das coisas. A dança não é um espaço narrativo, é um espaço poético, de sensações”, defende o coreógrafo. Não existem rotinas na sua criação – “o meu método é não ter método” – porque encontra em cada nova produção um percurso de descoberta incerto: “à medida que vou fazendo peças, tenho a impressão que cada vez tenho menos mão nelas”.

“Masculine” e “Malgré Nous, Nous Étions Là” são as duas criações que o coreógrafo traz ao Porto. Retratam “dois universos completamente diferentes”, segundo o próprio: enquanto “Masculine” é “cheia de contrastes e cheia de energia masculina”, a outra é “muito harmoniosa e aquática”.

“Masculine” está em cena de quinta a sábado, e “Malgré Nous, Nous Étions Là”, a 5 e 6 de Outubro, no Teatro Nacional S. João.

“Masculine” é “um encontro de quatro homens que se vão desafiando”, explicou Paulo Ribeiro, num encontro com os jornalistas. A peça cruza as “histórias pessoais” dos intérpretes (o actor Miguel Borges e os bailarinos Romeu Runa, Romulus Neagu e Peter Michael Dietz) e do coreógrafo com a escrita de Fernando Pessoa.

Paulo Ribeiro sente que Pessoa “é comum a todos nós portugueses” e que a sua escrita é “quase coreográfica”. A peça surgiu de uma forma orgânica e “impôs-se por ela própria”, afirma o coreógrafo.

Já “Malgré Nous, Nous Étions Là”, criada e interpretada pelo próprio coreógrafo e pela sua esposa, a bailarina Leonor Keil, retrata a vida “de um casal que vive junto há muito tempo”. Ribeiro e Keil tinham objectivos diferentes e essa “dessincronia” resultou numa peça “com uma intensidade suspensa, aquática” que deixa o público “em suspiro”.