Dentro de cerca de um ano, o Ministério do Ensino Superior terá uma “fotografia” detalhada do insucesso nas universidades e politécnicos portugueses. Quase 20 investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e do Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (ISFLUP) vão caracterizar detalhadamente as razões do insucesso escolar no ensino superior.

“Hoje a fotografia é muito panorâmica”, explica, ao JPN, João Teixeira Lopes (ISFLUP), que coordena a investigação em conjunto com António Firmino da Costa, do CIES. “Com isto vamos ter uma análise muito mais detalhada. Quanto mais fina for a análise, mais acertadas podem ser as políticas”.

O projecto começou em Julho e os primeiros resultados devem surgir em Fevereiro. Os projectos são financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e vão permitir “aprofundar o conhecimento sobre a realidade social e económica do insucesso escolar”, considerou, ao JPN, o secretário de Estado do Ensino Superior, Manuel Heitor.

Dados qualitativos

“Os indicadores que existem”, usados pelo Observatório da Ciência e do Ensino Superior e pela OCDE, “não são os melhores. Merecem uma discussão”, defende Teixeira Lopes. O sociólogo sublinha a importância de acrescentar à análise dados qualitativos sobre as diferentes trajectórias do ensino superior. “É diferente abandonar o ensino superior para ir trabalhar para uma empresa na área e depois regressar do que abandonar simplesmente”, exemplifica.

É este tipo de dados, “mais qualitativo que quantitativo”, que serão tidos em conta na investigação. Para tal, vão ser feitos estudos de caso em algumas instituições de ensino superior (com inquéritos pedagógicos e análise das culturas organizacionais) e entrevistas biográficas a 200 alunos com diferentes trajectórias, que representem “casos típicos”.

As relações do estudante com a família, o território, os amigos e a forma como cada universidade ou politécnico se organiza são dados importantes para a compreensão do insucesso escolar que “escapam às estatísticas”.

Trabalhar “em rede”

Ontem, na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa, foram apresentadas as metodologias de vários projectos na área – alguns “de incidência regional”, nas universidades de Coimbra, Évora e Lisboa, e outros de “intervenção-acção”, que servem de “ferramentas pedagógicas” a usar nas instituições. A ideia é que todos estes projectos funcionem “em rede”, explica Teixeira Lopes.