“Isto devia repetir-se mais vezes” foi a frase mais ouvida sexta-feira na Rua Cândido dos Reis, no Porto. O festival “Se esta rua fosse minha…”, organizado pela associação cultural Plano B, reuniu performances, teatro, música e actividades para crianças numa única rua e convidou os portuenses a sair de casa no 5 de Outubro.

A vontade de levar pessoas à rua foi o principal motivo para a organização deste festival, explicou, ao JPN, um dos proprietários do Plano B, Filipe Teixeira. “Além de ser a rua associada ao Plano B, é uma rua bonita e que está abandonada, não costuma ter muito movimento”, disse.

Inicialmente, a Câmara do Porto rejeitou a proposta de corte de trânsito na rua, mas acabou por alterar a decisão. Filipe Teixeira afirmou que “lá fora acontecem muitos eventos deste género” e defende que estes são “importantes para a cidade”. “Foi uma tentativa de animar um pouco a Baixa, que aos fins-de-semana e feriados está sempre deserta”.

Algumas lojas da rua, como a Marques Soares, apoiaram a iniciativa abrindo portas durante o feriado. Outros espaços, como a Gesto – Cooperativa Cultural e a livraria Garfos e Letras, participaram no festival: a primeira abrigou uma exposição de pintura, enquanto a livraria organizou um “workshop” de culinária para crianças.

De cabinas telefónicas a telas para pintar

As dez horas de actividades “non-stop” começaram às 14h00, com a actuação da escola de percussão Per’Curtir a ritmar a chegada das pessoas à rua. A Cândido dos Reis era, por um dia, uma mistura de museu com sala de estar: instalações artísticas preenchiam os passeios e sofás convidavam as pessoas a sentarem-se a apreciar a azáfama.

No “Personal Talker”, uma cabina telefónica instalada à porta do Plano B, o telefone tocava para alguém de passagem atender e conversar com quem está do outro lado, que perguntava coisas como “Quantas vezes mentes por dia?”. Performances como “A Família Pestana” e “Spirits” animaram a rua durante a tarde, enquanto se vendiam antiguidades (com preços ainda em escudos) num “Leilão” e se espalhavam abraços grátis pela rua.

Na Cândido dos Reis também houve espaço para as crianças. Além de participar no “workshop” de culinária, os mais pequenos podiam ouvir histórias e aprender a fazer marionetas de material reciclado. Penduradas numa das fachadas estavam também duas telas gigantes para miúdos (e graúdos) darem largas à criatividade.

À noite, as montras das lojas encheram-se de vida e de dança com “Variação sobre as Meninas de Goya”, a actuação que precedeu as duas performances musicais que animaram a Cândido dos Reis até a meia-noite: Cristal e Anónima Nuvolari.

Devia acontecer “todos os domingos”

A diversidade de performances e instalações espantou o público e as opiniões dividiram-se quanto ao melhor do festival. Contudo, era convicção geral de que eventos do género se deviam repetir, “todos os domingos” e “noutras ruas da cidade”.

“Para já só estamos a pensar fazer uma vez por ano, mas já nos pediram para fazer todos os meses”, disse Filipe Teixeira. A organização escolheu os artistas participantes através de um concurso, mas não pôde patrocinar todos. “É um evento gratuito e não dá lucro, mas pode ser que se arranje maneira de tornar estes eventos viáveis economicamente”, declarou. No entanto, a organização não estava à espera que corresse tão bem.

Também aos olhos dos artistas envolvidos esta é uma iniciativa valiosa. Saphir Cristal, autora do projecto “Trapos com Histórias” e vocalista dos Cristal, defende que é necessário “insistir com a Câmara para propor mais eventos destes”, especialmente porque dão “oportunidade a muitos artistas de mostrarem o seu trabalho e de serem valorizados por isso”.