Durante cinco dias, cinco reclusas do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, transformaram-se em “actrizes”. “Nunca Mais”, o resultado da experiência, encenada por Luísa Pinto, esteve em cena na Galeria Nave do Edifício dos Paços do Concelho da cidade. O último espectáculo foi este domingo.
As reclusas Ana Oliveira, Ana Catarina Antunes, Ana Paula Fernandes, Isabel Gavires e Marta Trindade actuaram com as actrizes Micaela Cardoso e Anabela Nóbrega e a apresentadora de televisão Sónia Araújo. Cerca de mil pessoas assistiram aos espectáculos.
Em cada sessão, três das cinco reclusas juntaram-se às duas actrizes e a Sónia Araújo. Todas encarnaram as reclusas Ferida, Vera, Edite, Áurea, Isa e Clara. Barricadas na sala de aulas da cadeia, lutam para que Áurea, que é muda, fique com o seu filho. Ao longo da peça, revelam dolorosos segredos e desejos íntimos.
Reintegração social
“Nunca Mais” baseia-se em histórias de vida reais para despertar a audiência para os problemas que as reclusas enfrentam. Revela o lado humano das mesmas, as suas desilusões, sofrimentos e angústias. O projecto surge no seguimento da exposição de fotografia “10 Espectáculos – 10 Mulheres”.
Promover a auto-estima das reclusas e “trabalhar a reintegração social” foram os principais objectivos desta iniciativa, cujo projecto artístico, encenação e figurinos ficaram a cargo de Luísa Pinto. O texto é de Fernando Moreira e a composição e direcção musical de Carlos Azevedo.
Sociedade “autista”
Luísa Pinto critica a sociedade actual, que denomina de “surda” e “autista”, e chama a atenção para o problema do preconceito. Na perspectiva da encenadora, este projecto transmitiu a mensagem de que as reclusas “são pessoas normais, são seres iguais a nós”. “Tiveram um azar na vida; escolheram o caminho errado, mas uma segunda oportunidade é preciso dar às pessoas”, diz. A mesma ideia é partilhada por Sónia Araújo.
A encenadora espera que o projecto “Nunca Mais” não fique por aqui. Luísa Pinto aguarda a autorização da Direcção Geral dos Serviços Prisionais para levar a peça à Póvoa do Varzim. A 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos, Luísa Pinto gostaria de apresentar “Nunca Mais” no Ministério da Justiça, em Lisboa.