Ana Sofia Rocha, Isabel Azevedo e Raquel Soares, investigadoras do Serviço de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), descobriram que o Imatinib, fármaco utilizado no tratamento de alguns tipos de cancro, pode ser utilizado para combater certas doenças vasculares.

Estas doenças, como a aterosclerose e restenose, têm em comum o espessamento do sangue e um crescimento anormal das células do músculo liso (estas células encontram-se nos vasos sanguíneos, trato gastrointestinal, útero e bexiga).

“O Imatinib pode ser usado de duas formas: como fármaco usado na aterosclerose e, também, para a restenose, evitando a complicação que a primeira cirurgia pode causar, podendo não ser necessário segunda ou terceira cirurgias”, explica Raquel Soares ao JPN.

Os efeitos do fármaco foram estudados nas células que constituem os vasos sanguíneos: as células do músculo liso e as células endoteliais (as células do músculo liso compõem uma camada exterior e mais espessa dos vasos e as células endoteliais formam uma fina camada interna que está em contacto directo com a corrente sanguínea).

Os resultados obtidos com este estudo foram positivos, constatando que quando em contacto com o Imatinib as células não eram capazes de se deslocarem e de invadirem o tecido conjuntivo adjacente.

A viabilidade e proliferação deste tipo de células também foram significativamente reduzidas pelo fármaco. E mais: foi ainda encontrado um aumento significativo da percentagem de células mortas depois do tratamento com Imatinib.

Descoberta ainda em fase de estudo

Apesar dos bons resultados, esta é uma descoberta ainda em fase de estudo. “O que se pretende agora é que se passe para os animais. Ainda não foi possível porque os ratos transgénicos são caros e ainda não tivemos meios para isso”, confessa Raquel Soares.

A investigadora diz que “gostava de ter apoio médico e científico”, mas acredita que conseguirá apoio depois de falar “com cirurgiões vasculares”.

Se o fármaco sair para o mercado, poderá ser um passo em frente no tratamento de doenças como a aterosclerose e restenose e outros tipos de doenças que tenham em comum o espessamento dos vasos, causado pelo crescimento das células do músculo liso.