Foi uma noite diferente aquela que se viveu no passado sábado, no Cais de Gaia. A Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE) apresentou “O último barco”, a sua mais recente realização teatral, com encenação de Ana Vargas, Inês Lua e Patrícia Miranda.

“O último barco” faz uma comparação entre a época medieval e os nossos dias, onde se tenta encontrar “a última loucura do mundo”: o tempo (metáfora de dinheiro). Onde os homens pobres e loucos – que eram rejeitados e excluídos da sociedade – são os mais sapientes e sinceros; e onde os poderosos, ao não possuir dinheiro, recorrem à violência e agem de forma mais rude que o povo.

A peça começou a ser ensaiada a 20 de Setembro e, segundo Inês Lua, não houve quaisquer dificuldades na sua preparação: “Os alunos são fantásticos, é muito fácil lidar com eles e dá gosto trabalhar com eles”. A encenadora esclareceu que esta actuação não se voltará a repetir: “Infelizmente foi espectáculo único”.

Centenas de pessoas na plateia improvisada

Espalhadas pelo cais estavam centenas de pessoas, na maioria jovens. Ana Pereira, de 24 anos, mostrou-se satisfeita com o que viu: “Foi muito interessante, é diferente por ser teatro de rua”. A pequena Sara Mendes, de apenas 10 anos, também ficou contente com a actuação, mas esteve mais preocupada com outra personagem fora de cena: “Eu gostei, mas queria um autógrafo do senhor mau da novela!”, referindo-se a António Capelo, actor de teatro e televisão, e director da ACE, que era um dos muitos espectadores presentes.

Um facto que surpreendeu Ivo Luz, um dos actores: “Não contava com isto. Ter este contacto físico com o público foi uma experiência nova para quase todos nós, e até foi preciso pedir licença para passar. Estava muito mais gente do que o esperado”.

A representação e produção (actores, figurinos e técnicos) foram realizadas pelos alunos do segundo ano da escola, algo destacado pelo jovem actor: “É de salientar que a banda sonora foi feita pelos nossos colegas da parte técnica. As três turmas estiveram muito unidas durante todo este processo”.

A peça foi inserida no “Cargotopia”, um projecto que leva um cargueiro – que foi um dos cenários utilizados – a diversas localidades, com o objectivo de criar respostas alternativas a assuntos políticos, sociais, culturais e ecológicos. Pretende facilitar também a troca entre povos, numa escala mais alargada, promovendo discussões e fóruns de reflexão. Tudo num cargueiro à vela. A bordo estão jovens, artistas, e trabalhadores sociais. Depois de Gaia, Vila Franca de Xira e Setúbal, o cargueiro vai navegar rumo ao Mediterrâneo: Espanha, França, e Itália.

O Festival Cais de Frestas realizou-se entre 9 e 11 de Novembro. Entre outras actividades, realizaram-se oficinas de desenho e pintura, sessões de ginástica e concertos musicais, ao longo dos três dias. Uma organização que contou o apoio do pelouro da Cultura de Vila Nova de Gaia.