Não são “só” três fotógrafos: são três jovens artistas que se movimentam no campo alargado da fotografia, mas cujas propostas se reportam mais ao universo das artes plásticas do que da arte fotográfica em sentido estrito. Quem o defende é Ricardo Nicolau, comissário da exposição de três novos artistas portugueses, distinguidos na terceira edição do prémio BES Relevação, patente na Casa de Serralves, no Porto, até 6 de Janeiro.

Catarina Botelho, Pedro Neves Marques e Ivo Andrade receberam cada um uma bolsa de produção no valor de 7.500 euros e a oportunidade de “expor num sítio legitimante e que dá visibilidade”. É uma das singularidades deste prémio, destaca Ricardo Nicolau, para além de ser “totalmente aberto e democrático” – qualquer residente em Portugal com menos de 30 anos podia concorrer.

A mostra de Catarina Botelho (Lisboa, 1981), intitulada “Segunda pele”, revela, em 13 fotografias, um universo familiar, com personagens em situações de intimidade e conforto. “Não são encenadas”, esclarece a artista. “O que me faz fotografar é a posição da pessoa, a cor da roupa ou dos objectos”.

Já Pedro Neves Marques apresenta o registo vídeo de uma viagem de barco que realizou com o dinheiro da bolsa pela costa portuguesa, de norte a sul. O objectivo foi “confrontar a costa, vê-la e retirar uma reflexão”, diz o lisboeta, nascido em 1984. A experiência vale tanto com a obra final (“Para mim era tão ou mais importante eu estar ali do que filmar”), que contrapõe a costa nacional com os Montes Urais, na Rússia, através de dados obtidos pela Internet e outras “fontes não classificadas”.

Curiosa é também a proposta de Ivo Andrade (Trancoso, 1984), ainda a estudar Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), nas Caldas da Rainha. Ivo esculpe rostos humanos em batatas – são esculturas condenadas a apodrecer (tal como os rostos envelhecem).

A modificação das batatas vai sendo fixada nas fotografias, que remetem para registos de arquivo museológico. Em Serralves, Ivo Andrade explora ainda a ilusão de uma batata “suspensa” nos jardins, através de um jogo de espelhos e um telescópio.