São nove horas e já está uma confusão enorme no recinto da feira da Senhora da Hora, em Matosinhos. Todos os sábados de manhã cumpre-se a tradição e realiza-se a feira, com cerca de 50 anos de existência.

Sons, cheiros e vozes despertam a curiosidade, à entrada da feira. Os clientes passeiam, convivem ou compram a baixo preço artigos como roupa, calçado ou as famosas hortaliças “frescas e de confiança”, no dizer de Ana Correia de Araújo, proprietária de uma banca de produtos hortícolas.

“Carteiras anti-roubo”

“Esta feira é muito boa, vende-se muito bem. As minhas clientes já me conhecem e vêm sempre comprar a minha hortaliça”, refere a “dona Aninhas”, como lhe chamam as vizinhas de banca.

Desde roupa, calçado, acessórios de moda, louças, tecidos, tapetes, carne, peixe, produtos hortícolas e frutícolas e até animais, vende-se um pouco de tudo na feira da Senhora da Hora, com cerca de 600 lugares para bancas. Até “carteiras anti-roubo”, que “apitam quando se aproximam os carteiristas”.

Fátima Silva e a sua mãe já se atrapalhavam com a quantidade de sacos que levavam em cada mão. Vieram passear à feira, como é habitual fazerem ao sábado de manhã. “A diversidade de roupas a baixo preço e o ambiente saudável e animado que se vive aqui são o que me traz cá quase todas as semanas”, diz Fátima Silva.

Num dos vários corredores sente-se um intenso cheiro a café. É o único local onde se vende café na feira. Augusto Afonso garante que o seu café é especial. “Para além de ser único e não ter concorrência, é gabado por todos os fregueses. Não há quem diga mal do meu cimbalino”, assegura o comerciante.

“É só uma notinha”

“Cinco eurinhos, é só uma notinha”, grita Julisete Coutinho na sua banca de bijutarias, relógios e cintos. “O negócio está um bocadinho fraco, mas esta feira não é das piores. Gosto muito de fazer esta feira porque vendo bem e aqui as pessoas procuram material com mais qualidade”. A filha, de 10 anos, toma conta da banca ao lado, a vender perfumes. “Gosto muito de ajudar a minha mãe a fazer feiras. Divirto-me e ainda vendo alguma coisa”, diz Sheila.

Mais à frente aproximamo-nos do corredor do peixe. “É peixinho fresquinho da melhor qualidade” é uma das frases que se ouve e se mistura com as dos feirantes do corredor em frente. Judite Sousa já vem à feira há muitos anos. “Gosto muito de fazer compras aqui – o ambiente é outro, não tem nada a ver com ir ao supermercado. É mais acolhedor. A hortaliça e o peixe prefiro comprar aqui todas as semanas, já é um hábito”, refere.

Feira “especial”

Ao longo do recinto, barraquinhas e mais barraquinhas vão preenchendo o cenário. “Esta feira é muito especial. Serve a população, serve a Junta de Freguesia, dá postos de emprego e traz muito movimento, até para as casas comerciais exteriores à feira”, diz Joaquim Ferreira, da organização do mercado.

“Aproveitem que já está a acabar! A cigana está maluca, é só cinco euros!”, ouve-se à saída da feira. Uma senhora, também a sair da feira, responde com um sorriso: “Para a semana há mais”.