“As pedras [do centro histórico] devem estar profundamente desencantadas. Foram colocadas com coração pelos nossos antepassados e estão a gritar, certamente, por alguém que olhe por elas com o mesmo afecto”. Foi com palavras sentidas sobre uma zona que é a própria “identidade portuense” que o cónego António Ferreira dos Santos se associou publicamente ao movimento Cidadãos do Porto – Sociedade Aberta.

O movimento de cidadãos preparou para a próxima terça-feira, 4 de Dezembro, um programa festivo [PDF] para assinalar o 11º aniversário da classificação como Património Mundial do centro histórico do Porto pela UNESCO.

A festa começa às 18h30 com encontros em várias praças do Porto, animados por escolas, associações e artistas da cidade. Os vários grupos vão caminhar rumo à Praça do Infante, “epicentro” das celebrações. É lá que, pelas 20h00, vão haver intervenções musicais de Pedro Abrunhosa, Rui Reininho, Vozes da Rádio, Rui Veloso, Ana Deus, Bando dos Gambozinos, Conjunto António Mafra, entre outros.

“Esquecimento geral”

Placa de Património Mundial na Ribeira do Porto Tal como em 2006, a Câmara do Porto não assinala a data. Mas Francisco Rocha Antunes diz que, noutros anos, “o esquecimento foi geral”. A “rede” já se alastrou a mais de 400 pessoas (através do e-mail [email protected]) e tem conseguido apoios de todos os quadrantes.

Teatro, música (Pedro Burmester vai tocar, quebrando a promessa de não tocar no Porto enquanto Rui Rio fosse presidente da câmara) e uma conferência de Álvaro Gomez-Ferrer Bayo, do Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios, envolvido no processo de classificação, fazem parte do programa.

“Virámos as costas à força que veio da classificação”, referiu hoje, sexta-feira, o cónego Ferreira dos Santos, que aplaudiu o acto de cidadania. “É próprio de uma sociedade adulta que os cidadãos não estejam à espera das autoridades estabelecidas para fazerem tudo”, acrescentou.

“Sinal de esperança”

“O facto de estarmos juntos e de tanta gente ter aderido é um sinal de esperança” para que “o selo de Património Mundial não exista só no papel”, disse ainda Ferreira dos Santos.

O evento é financiado através de donativos e é possível graças ao trabalho gratuito dos artistas. Além disso, revelou Francisco Rocha Antunes, promotor imobilário e membro dos 11 fundadores do movimento, serão vendidas lanternas com o símbolo do Património Mundial para suportar as “despesas mínimas” da festa.