Foi treinar para o Egipto por não ter espaço cá. Foi uma experiência positiva, apesar disso?
Foi uma experiência fabulosa. Eu nisso reagi muito bem. Primeiro, porque ía ganhar dinheiro – é aquilo que todos os outros fazem e ninguém me pode levar a mal. Eu dizia sempre que a minha ida para o Egipto funcionava como uma bolsa de estudo.
Aceitou orientar o Vitória de Guimarães quando a equipa estava mais próxima da III liga do que da I. E já declarou que “se não subisse” seria o seu “fim”. O que o fez correr um risco tão elevado?
Primeiro, porque geri sempre a minha carreira pelo coração, nunca pela grandeza das coisas. E a questão do Guimarães é uma questão de sentimento. Corri sempre atrás dos meus gostos, nunca treinei um clube de que não gostasse.
Como foi liderar um grupo desmoralizado?
Essa é a grande questão.
É um treinador que dá valor e trabalha a condição psicológica?
Muito. Em qualquer profissão, uma pessoa que não esteja bem psicologicamente, rende menos 50 % do que é normal render. Quanto à questão dos psicólogos, cheguei à conclusão que hoje não preciso deles. Dificilmente eles encaixam no futebol, porque se pensa sempre no psicólogo para os jogadores, e o psicólogo é para um grupo. Para o treinador, para os dirigentes e para os jogadores.
Mas para os jogadores, o melhor psicólogo acaba por ser o treinador?
Acaba por ser. Basta-me ser um observador atento. Não admito que outra pessoa ajude antes de mim. Nenhum jogador tem medo do treinador. Todos têm liberdade para vir falar comigo. Para mim, o primeiro objectivo do treinador, em vez de treinar a equipa, é ajudar os jogadores a terem rendimento na equipa. Depois, exigir deles o rendimento, mas a primeira missão é ajudá-los. Perdi muitas noites entre a psicologia e a filosofia. E dedico-me mais a isso do que ao 4x4x2 ou ao 4x3x3, que toda a gente enche a boca a dizer que sabe. “Joga em losango, joga em não sei quê”. Eu farto-me de rir, porque quem só sabe disso não sabe de futebol.
Disse que na época passada olhava para as iniciais do Vitória (VSC) e só pensava: “Vamos ser campeões”. Este ano ousa pensar o mesmo?
Não. No ano passado era motivador dizer aos jogadores “Vamos ser campeões”. Não fomos campeões, mas subimos de divisão, e isso foi mais do que o título. Este ano não. Este ano vem aquela dose de realismo. Sabemos que dificilmente poderemos melhorar mais na classificação. Provavelmente vamos descer agora uns lugares e recuperar na fase final do campeonato. Não digo até um lugar da Europa, mas uma classificação justa para aquilo que o Vitória de Guimarães merece.
Sente que tem recursos para atingir os objectivos?
É difícil trabalhar sem recursos. Precisava de mais dois ou três jogadores. Mas não acho importante pedir isso nesta altura. Acho importante solidificarmos aquilo que estamos a fazer.
Já afirmou que se sente a treinar um grande no Vitória. Tem um carinho especial pelo clube?
É um clube onde me sinto muito bem, mas sinto um carinho especial por todos os clubes por onde passei.
Como descreve os adeptos do Vitória?
São como criancinhas. E o Vitória é o seu brinquedo favorito. São dedicados, amam e cuidam do seu brinquedo, mas de vez em quando também fazem birras. Gostam tanto do clube que, por vezes, ficam cegos e intolerantes. Mas é um público, sem dúvida, motivador, para o qual dá gosto trabalhar.